(Fernanda Carvalho)
Quatorze anos após a retirada forçada dos camelôs do hipercentro de Belo Horizonte, a região volta a pegar fogo com o embate entre ambulantes e prefeitura. O primeiro dia útil da proibição da atividade ficou marcado por momentos de tensão, com confrontos, feridos e prisões.
A queda de braço na metrópole deve permanecer, pois parte da categoria promete resistir e fazer novos protestos a partir de hoje. Prova disso, ainda ontem, pouco tempo depois do atrito com a Policia Militar, alguns camelôs já começavam a armar novamente as bancas, a um quarteirão da Praça 7.
A megaoperação para coibir a presença dos vendedores começou a partir das 5h. Quatrocentos agentes, entre guardas municipais, fiscais e funcionários da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), estavam nas ruas e nenhum camelô se arriscou.
Um homem jogou pedras em direção a uma viatura, e o vidro traseiro quebrou. Os policiais desceram do carro atirando balas de borracha, bombas e spray de pimenta. A confusão se espalhou pelas ruas e quarteirões fechados da região central. A ambulante Rosana Maria, de 58 anos, ficou ferida após um tiro de bala de borracha na perna direita.
Pouco depois, um novo embate. Manifestantes decidiram subir a rua São Paulo e fechar a avenida Amazonas para, depois, voltar à Praça 7. Novamente, houve confronto e o Batalhão de Choque disparou dezenas de bombas de efeito moral e um canhão d’água para dispersar as pessoas.
A todo momento, o som de sirenes era acionado e o clima voltava a ficar tenso. Manifestantes atearam fogo em pedaços de madeira e lixo, e as ruas ficaram com cheiro de queimado e gás lacrimogêneo.
O comércio da região fechou as portas, e as pessoas tentaram se abrigar nas lojas e nos prédios. Momentos de desespero foram vividos por quem passava nos locais. Em meio à bagunça, era possível ver idosos apavorados e crianças chorando.
Discrepância
Na proposta da prefeitura para retirar os camelôs está previsto o pagamento de parte do aluguel dos espaços em shoppings populares. Apesar do auxílio financeiro, a maioria dos camelôs se opõe à ideia.
O argumento é de que, mesmo com a ajuda, o aluguel será uma despesa a mais, em um momento de poucas vendas, o que tornaria a atividade inviável em pouco tempo.
O camelô Marcos Augusto, nas ruas de BH há 35 anos vendendo bebidas, afirma que a ação é precipitada, uma vez que a transferência dos trabalhadores não será um processo rápido. “Antes de tirar o nosso ganha-pão, a prefeitura tem que garantir que essa mudança vai dar certo”.