Projeto quer resolver problema de falta de água de aldeia no Rio Doce

Agência Brasil
07/02/2017 às 09:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:44
 ( LEONARDO MORAIS/Hoje em Dia)

( LEONARDO MORAIS/Hoje em Dia)

A Terra Indígena Krenak às margens do Rio Doce, em Minas Gerais, vai receber um projeto para solucionar o abastecimento de água, prejudicado pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, com a recuperação dos recursos naturais e da cultura do povo da aldeia. O dinheiro para as ações que serão feitos no local vai sair de uma campanha de financiamento coletivo  lançada, na noite de hoje (6), com a presença de integrantes da região, na Oca do Parque Lage, no bairro do Jardim Botânico, na zona sul do Rio.

O custo total do projeto, dividido em oito fases, é de R$ 433 mil, que incluem o estudo para avaliação ambiental e relatório técnico de R$ 25.000, o projeto de educação ambiental do mesmo valor, o cercamento das nascentes de R$ 15.000, enriquecimento de áreas já cercadas estimado em R$ 120.000, criação de agrofloresta no valor de R$ 83.000,00, perfuração de poço com malha hídrica e bombeamento orçado em R$ 65.000 e a construção do açude com estudo topográfico e sondagem ao custo de R$ 100.000.

De acordo com os organizadores, quando o valor necessário para execução de uma das etapas for alcançado, a ação será feita, mesmo que a campanha ainda não tenha chegado ao fim. A intenção é dar mais rapidez ao projeto. Todas as fases e o orçamento poderão ser acompanhados pelos doadores e pelo público.

Uatu Ererré

A campanha Uatu Ererré é uma parceria entre o Instituto Welight, que trabalha com os índios da Amazônia há dez anos e com causas dos povos indígenas; a empresa Osklen, o Instituto-E, uma organização da sociedade civil de interesse público, o Circo Voador, o programa PayPal, o músico Hamilton de Hollanda e o Baile do Almeidinha. As doações, sem valor mínimo, devem ser feitas por meio do site do Welight . As contribuições no valor de R$180 darão direito a uma camiseta exclusiva assinada pela Osklen, confeccionada em algodão orgânico e estampada com o mapa dos rios do Brasil.

“As soluções do poço que devolve o abastecimento de água de forma perene, o açude que devolve para eles o peixe que eles estão há um ano e dois meses sem comer, também, a possibilidade de realizar os batismos e os rituais nas águas e o reflorestamento das nascentes para a produção de água em abundância para a aldeia”, disse o presidente do Instituto Welight, Ian Lazoski. Segundo ele, 51 nascentes na aldeia Krenak estão secas. “Eles são uma das populações ribeirinhas mais afetadas pela tragédia da barragem de Mariana”.

Atualmente, o abastecimento de água na aldeia é feito pela Fundação Renova, criada pela empresa Samarco, para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, mas para o presidente, a ação tem causado transtornos aos Krenak e é um trabalho paliativo. “Eles levam caminhões-pipa para encher caixas d’água improvisadas que ficam em frente às casas da tribo. Isso não é solução que venha resolver o problema, até porque, esses caminhões entrando e saindo o tempo inteiro da aldeia atrapalham completamente o fluxo e a movimentação dos índios ali dentro. [Eles] não estão acostumados a com a entrada de caminhões deste tamanho e com as estradas que fizeram”, disse.

Mobilização

Na visão da diretora executiva do Instituto-E, Nina Braga, os krenak estão em situação crítica e no limite, por isso a mobilização é necessária. O projeto foi discutido com o povo Krenak em cinco visitas técnicas feitas por engenheiros ambientais e florestais e a ideia é arrecadar o valor total até junho.

“O planejamento das ações foi feito em conjunto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Engenheiros foram lá, viram o impacto da tragédia no Rio Doce”, disse. “A nossa expectativa é de que se tudo der certo, que vai dar, é reproduzir o projeto ao largo do Rio Doce, que está todo afetado”.

Renova

A Fundação Renova foi criada, em março de 2016, por meio de um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC). O documento foi assinado pela Samarco, suas acionistas, os governos federal e dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, além de uma série de autarquias, fundações e institutos, entre outros, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Instituto Chico Mendes, a Agência Nacional de Águas, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Estadual de Florestas.

Em resposta à Agência Brasil, a Fundação Renova informou que em função do rompimento da barragem de Fundão, a entidade passou a se relacionar com os povos indígenas para garantir a proteção e a recuperação da qualidade de vida deles. A fundação confirmou que o povo Krenak, na região de Resplendor, em Minas Gerais, recebe “água potável para consumo humano e água bruta para dessedentação animal [matar a sede dos animais]”. De acordo com a Renova, diariamente, são fornecidos 3 mil litros de água mineral, além do abastecimento de 140 caixas d'água de 2 mil litros a cada dois dias.

A Fundação disse ainda que no âmbito do cumprimento do TTAC, em reunião específica com a Funai, a Samarco apresentou consultoria técnica contratada para elaborar os estudos para identificar os impactos ambientais, socioculturais e econômicos dos territórios indígenas e informou que, com acompanhamento da Funai, a Fundação Renova apresentará aos povos indígenas uma proposta de construção de um Plano de Diálogo.

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