(AFP PHOTO / LLUIS GENE)
O craque brasileiro Neymar pode seguir os passos do companheiro de Barcelona Lionel Messi, que compareceu a um tribunal na semana passada acusado de fraude, depois que a Promotoria espanhola o acusou de enganar um fundo de investimentos brasileiro durante a transferência ao clube catalão.
A chegada do brasileiro em 2013, procedente do Santos, representou benefícios dentro de campo ao Barça, mas também problemas jurídicos por conta das artimanhas financeiras utilizadas na operação.
O jogador de 24 anos e seu pai foram denunciados pelo fundo de investimentos brasileiro DIS, que possuía 40% dos direitos esportivos quando ele jogava pelo Santos e se considera prejudicado pelo modo como ocorreu a transferência.
A Promotoria da Audiência Nacional em Madri, jurisdição responsável pelos grandes casos econômicos, concordou com o DIS e pediu o julgamento de Neymar e seu pai, Neymar da Silva Santos, acusados de "corrupção nos negócios".
A origem da disputa é um contrato assinado no fim de 2011 entre o jogador e seu pai em nome da empresa N&N, propriedade da família, com o FC Barcelona, que pagou 40 milhões de euros entre 2011 e 2014 para evitar que negociassem com outros clubes.
De acordo com a Promotoria, isto "altera o livre mercado de contratação de jogadores" e prejudica o DIS, que "se viu privado da possibilidade de que o jogador entrasse no mercado (...) e pudesse obter um valor maior pela transferência".
O Ministério Público também acusa do mesmo delito o FC Barcelona como pessoa jurídica e o presidente do clube na época, o já demitido Sandro Rosell. Agora o juiz de instrução deve decidir se envia ou não o caso de Neymar ao tribunal. Caso ele e o pai sejam julgados, podem ser condenados a pagar uma multa milionária e a uma pena de prisão de entre seis meses e dois anos, que na Espanha não é cumprida se não existem antecedentes.
A Promotoria também envolve a mãe do jogador, Nadine Gonçalves da Silva Santos, como partícipe a título lucrativo.
Transferência avaliada em EUR 83 milhões
O caso tem outra frente, relacionada ao valor da transferência. Em um primeiro momento, o Barça anunciou 57 milhões de euros, 40 para o jogador e 17,1 para o Santos, dos quais o fundo DIS recebeu 6,8 milhões. Mas os dois clubes assinaram contratos paralelos que, segundo a justiça espanhola, serviram para ocultar o custo real da operação, que chegaria a 83 milhões. O DIS denuncia não ter recebido sua parte correspondente.
De acordo com o promotor, o fundo deve ser indenizado em 3,2 milhões de euros. Por este motivo também pediu o julgamento dos dois clubes e de seus ex-presidentes, Sandro Rosell e Odilio Rodrigues, por "delito de fraude". O clube e seu ex-presidente são acusados em outro processo ao lado do atual presidente, Josep Maria Bartomeu, por fraude fiscal ao esconder o valor real da transferência.
Para Neymar, a transferência para a Europa representou problemas judiciais. No Brasil, a justiça bloqueou ativos em 48,3 milhões de dólares por uma suposta sonegação de impostos relacionada à contratação pelo Barça. Além disso, o Santos o denunciou à Fifa.
Apesar do sucesso esportivo de Neymar, com vários títulos e um papel importante no ataque do Barça ao lado de Messi e Luis Suárez, os escândalos dificultam a renovação com o clube, que deseja ampliar o contrato do brasileiro, que vai até 2018.
"Estamos sofrendo uma insegurança tributária muito grande que afeta o planejamento da carreira (de Neymar). Precisamos que estes assuntos terminem", admitiu o pai do camisa 10 da seleção brasileira em uma entrevista no fim de 2015 ao jornal catalão Sport.
Em fevereiro, em depoimento ao juiz de instrução, Neymar se defendeu alegando que apenas assinava os contratos apresentados pelo pai, sem prestar atenção no conteúdo.
A linha de defesa é a mesma utilizada por Messi na semana passada ao tribunal de Barcelona que o julga por fraude fiscal de 4,16 milhões de euros, um caso que ainda aguarda a sentença.