A mulher negra se tornou vítima do próprio protagonismo. Esse foi um dos fatores elencados pela ministra de Estado chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, para justificar a alta de 54% no índice de assassinatos de negras entre os anos de 2003 e 2013 - dados revelados pelo Mapa da Violência 2015, que neste ano foca a violência de gênero.
"Na última década, a negra assumiu um lugar muito determinado como sujeito político, dando magnitude à luta contra o racismo. Elas começaram a aparecer bonitas, elegantes, protagonistas da própria vida, podendo estar exatamente onde quiserem. Isso incomoda", afirmou Eleonora durante o lançamento do documento na manhã desta segunda-feira (9), na Casa da Organização das Nações Unidas (ONU).
A ministra classificou os resultados do relatório como "lamentáveis" e destacou que são um alerta para o fato de que, no Brasil, "mulheres morrem simplesmente porque são mulheres". Também elogiou o fato de que o feminismo passou a ter uma "cara mais jovem" no País.
Coordenadora executiva no Brasil da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), Ivana de Siqueira criticou a retirada das questões de gênero do Plano Nacional de Educação, medida que, se mantida, poderia contribuir para a diminuição do machismo e da violência. Ela defendeu uma articulação entre diversos setores do governo, como Saúde, Justiça, Segurança Pública e Direitos Humanos, além da própria Educação, como aspecto fundamental de combate ao problema.
O Mapa apontou que, entre 2003 e 2013, o número de vítimas do sexo feminino passou de 3.937 para 4.762 - um aumento de 21% na década. Em 2013, 13 mulheres foram assassinadas por dia.