Pelo segundo dia seguido, o protesto do Movimento Passe Livre contra o aumento das passagens de ônibus, metrô e trem teve confronto entre manifestantes e a Polícia Militar. Ontem (7) à noite as bombas de efeito moral estouraram na Marginal do Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, que foi totalmente bloqueada no sentido Castelo Branco entre as 19h15 e 19h45.
O reflexo da manifestação na região de Pinheiros foi o terceiro pior índice de congestionamento na cidade neste ano: 226 quilômetros de lentidão às 19h, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Na Estação Faria Lima de metrô, manifestantes jogaram pedras em 13 seguranças da concessionária ViaQuatro, que administra a Linha 4-Amarela. Uma catraca de vidro foi quebrada. Os agentes fecharam as entradas da estação na Avenida Brigadeiro Faria Lima e a PM reforçou a segurança para permitir a saída dos passageiros.
Porta-vozes do grupo explicaram que o movimento de ontem (7) foi organizado para divulgar uma grande manifestação programada para a próxima terça-feira. "O da semana que vem é que está sendo mais bem organizado", disse um dos representantes do movimento que não quis se identificar.
O confronto de ontem (7) começou por volta das 19h15, quando cerca de 5 mil manifestantes, segundo a polícia, bloquearam todas as faixas da Marginal do Pinheiros. A marcha havia começado uma hora antes na Avenida Brigadeiro Faria Lima e desceu a Avenida Rebouças. Manifestantes picharam orelhões, paredes e a passarela que dá acesso ao Shopping Eldorado.
No cruzamento da Rebouças com a Marginal, o grupo aproveitou uma brecha em um bloqueio que havia sido montado pela Polícia Militar no acesso da Ponte Eusébio Matoso e entrou na via expressa. Ali, no entanto, a tropa de choque da PM estava à espera dos manifestantes.
Até então, a PM só observava o protesto e o cercava com um cordão de isolamento. O único princípio de conflito havia sido na altura do número 1.216 da Faria Lima, quando dez policiais tentaram liberar uma das faixas. Os manifestantes avançaram em direção aos PMs e a passeata prosseguiu. Mas, com a ocupação da Marginal, meia hora depois, a tropa de choque jogou bombas de efeito moral e disparou balas de borracha para tentar dispersar o protesto.
Refúgio
Cerca de 30 estudantes que participavam do protesto entraram no Motel Astúrias, na esquina da Marginal do Pinheiros com a Rua Paes Leme, para se proteger das bombas de gás lacrimogêneo e do spray de pimenta jogados pelos policiais militares.
Os seguranças do motel ainda tentaram evitar que os manifestantes entrassem no local, que estava cheio de clientes. No entanto, eles também foram afetados pelo gás lacrimogêneo e o grupo de manifestantes aproveitou para entrar correndo, procurando torneiras para lavar o rosto. Depois de alguns minutos, após tentar sair, alguns manifestantes foram detidos pela polícia.
Antecipação
Desde as 15h a PM já estava se preparando para a manifestação na região da Avenida Brigadeiro Faria Lima, marcada para as 17h. Destacou homens para ficar na frente da estação de metrô, do Shopping Iguatemi e de outros pontos comerciais.
A maioria das empresas da região dispensou seus empregados às 16h para que não houvesse problema na hora da saída. Assim, a hora do rush foi adiantada para os trabalhadores do bairro. Quem precisava passar pelo local para ir para casa, no entanto, não teve a mesma sorte. Os ônibus da Faria Lima ficaram parados em uma fila que ia do Largo da Batata à Avenida Presidente Juscelino Kubitschek. Quando os manifestantes tomaram a avenida, o comércio fechou as portas.
Em toda a região de Pinheiros o trânsito ficou mais carregado que o comum para uma sexta-feira. Na Rua Cardeal Arcoverde, o congestionamento era intenso desde o início da via, na Avenida Doutor Arnaldo.
Mobilização
É o segundo dia seguido de protestos contra o aumento das tarifas de ônibus, trem e metrô (que foram reajustadas em 6,67%, de R$ 3 para R$ 3,20). Anteontem (6), os manifestantes fecharam as Avenidas Paulista, 23 de Maio, 9 de Julho e São Luís com 2 mil pessoas, segundo a PM, e 5 mil, de acordo com a organização.
Antes do protesto na Faria Lima, os organizadores promoveram uma enquete no Facebook sobre se o movimento deveria ter ou não vandalismo. A maioria (1,1 mil votos) escolhia a opção "Sem vandalismo, se a polícia agir a gente grava e divulga a repressão". Mais de 200 pessoas votaram em "Sem vandalismo, mas se a polícia vier para cima, nós vamos para cima deles!". A opção "Fazer muito barulho e parar o trânsito" reunia mais de 200 votos, e menos de 100 pessoas votaram em "Com vandalismo! Tem que quebrar tudo e dar motivo pra falarem!" As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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