Um protesto ontem à tarde fechou a Marginal do Tietê, em São Paulo, por uma hora. Cerca de 100 pessoas bloquearam a via nos dois sentidos, na altura da Ponte Orestes Quércia, conhecida como Ponte Estaiadinha, no Bom Retiro, região central de São Paulo, às 16 horas, para protestar contra a reintegração de posse de terreno onde se formou uma favela. A Tropa de Choque da Polícia Militar usou bombas de gás para dispersar os manifestantes, que liberaram as pistas por volta das 17 horas. Uma criança foi atingida por uma pedra na cabeça atirada durante o tumulto.
Os manifestantes, que carregavam faixas e cartazes, atearam fogo em pneus e fizeram barricadas nas pistas. Além dos policiais da Tropa de Choque, helicópteros da Polícia Militar também sobrevoaram a área onde houve o protesto, motivado por um pedido de reintegração de posse para remover os moradores do terreno que pertence à Prefeitura de São Paulo.
Os moradores alegaram que o objetivo do protesto não era "fazer vandalismo". Alguns manifestantes chegaram a jogar pedras nos policiais, que revidaram com bombas de gás. No tumulto, a menina Lavínia da Conceição Venâncio, de 6 anos, que estava no colo da mãe foi atingida na cabeça por uma pedra.
Ao chegar em casa com a filha, a dona de um lava-jato Maria Cícera da Conceição foi surpreendida pela Tropa de Choque, que a impediu de se aproximar do prédio onde mora, no Conjunto Habitacional Parque do Gato, ao lado da favela. No meio da confusão, a menina acabou sendo atingida.
"A polícia fez com que isso acontecesse, eles tinham que ter me deixado entrar em casa. Eu estava com uma criança no colo. Quando a Lavínia foi atingida, eles me olharam e não prestaram socorro nenhum, só me mandaram ir para o pronto-socorro", criticou Maria Cícera. Levada para a Santa Casa, em Santa Cecília, Lavínia levou quatro pontos na testa e já está em casa, mas em observação.
Há nove anos no conjunto habitacional Parque do Gato, Maria da Conceição era moradora da favela que havia no lugar antes da construção dos prédios, mas diz ser contrária às manifestações da favela vizinha. "Não é justo fechar a Marginal, fazer vandalismo, não concordo com nada disso. Mas o pior é que nem éramos nós dos prédios que estávamos protestando e a minha filha que foi atingida, tudo por culpa da polícia." A PM informou que o policiamento é para garantir o direito à manifestação e a segurança. E que desvios de conduta podem ser denunciados à Corregedoria.
Trânsito. Às 17 horas, a capital registrou 171 quilômetros de congestionamento nas vias monitoradas pela CET. Só a Marginal do Tietê tinha 12,2 quilômetros de lentidão nas pistas expressa e local, da Rodovia Castelo Branco ao Rio Tamanduateí.
A área da Prefeitura foi invadida em junho (leia texto nesta página). Em 24 de outubro, a Prefeitura conseguiu reverter a decisão do Tribunal de Justiça que adiou em 90 dias a reintegração. Como o mandado de reintegração foi expedido pela Justiça anteontem, a retirada dos moradores poderia ser feita a qualquer momento. Em setembro, eles já haviam protestado contra o pedido de reintegração. De acordo com um dos líderes do protesto, Luciano Nascimento, haverá tentativa de novo diálogo com a administração. "Vamos negociar com a Prefeitura e pedir que atendam à reivindicação de moradia", afirmou.
Ele alega que, das 594 famílias que ocupavam o local inicialmente, 150 não foram cadastradas para receber atendimento habitacional. "Eles falaram que voltariam para atender as famílias que faltavam e nunca mais voltaram", disse.
A Prefeitura afirma que as famílias não cadastradas já haviam recebido atendimento habitacional anteriormente e foram para a área apenas com o objetivo de receber outro atendimento, por isso ficaram de fora do cadastro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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