'PT precisa fazer uma reflexão', diz advogado de Dilma

Estadão Conteúdo
23/08/2016 às 07:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:30

Ex-ministro da Justiça e atual advogado da presidente afastada Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo avalia que o partido precisa fazer uma reflexão. "O PT tem um papel na história do Brasil que não pode ser desprezado. É muito importante que o PT faça uma reflexão, avalie os seus erros. O PT precisa, sem mudar de lado, repensar o seu posicionamento na democracia", disse Cardozo, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

O ex-ministro avalia que o partido ganhou fama negativa ao tentar coibir a corrupção, o que para ele é um dos principais legados do governo de Dilma Rousseff. "Quando um governo ousa enfrentar a corrupção, ele recebe diretamente o peso e o impacto de seu combate. Quando um governo não barra investigações, se não há engavetadores, como houve no passado, quando ele deixa a coisa fluir, cria leis, ele paga um preço por isso", afirmou.

Para Cardozo, o PT não é a raiz da corrupção no País e o Brasil possui um problema institucional. "Tenho vergonha do sistema político brasileiro. O sistema gera corrupção, os partidos entram no jogo e as pessoas caem no jogo. Ou nos conscientizamos que temos que mudar, ou iremos demonizar o partido A ou B, quando o demônio está nos sistema."

Impeachment

O advogado também falou sobre a reta final do processo de impeachment de Dilma Rousseff, cujo julgamento se iniciará na quinta-feira. Cardozo avalia como positiva a ida da presidente ao Senado para depor. Ele criticou senadores tucanos que afirmaram que, caso ela esteja presente, irá legitimar o processo que chama de golpe. "Se fosse correta essa visão, nem advogado deveria ter. Temos que usar o processo para denunciá-lo, usar o golpe para mostrar a farsa que se constrói. Esse é o papel que temos nesse processo, se não conseguirmos revertê-lo", afirmou.

O advogado reiterou a tese de golpe de Estado e a ausência de crime de responsabilidade no processo contra Dilma. Em sua leitura, a presidente é vítima de uma confluência de forças: de um lado, aqueles que não aceitaram ter perdido as eleições de 2014; de outro, aqueles que estão insatisfeitos com o avanço da Operação Lava Jato.

Cardozo acredita que Dilma também sofreu com um conjuntura internacional que agravou a crise econômica. Segundo ele, os artífices do processo de impeachment utilizaram a questão econômica e a baixa popularidade da presidente de forma oportunista.
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