MOSCOU - O presidente Vladimir Putin negou nesta quinta-feira (20) que a Rússia seja um "sistema autoritário", apoiou a proibição de que os americanos possam adotar crianças russas e considerou que Washington não tem lições a dar em matéria de direitos humanos.
"Não posso estar de acordo em classificar nosso sistema de autoritário", afirmou Putin, que colocou como exemplo sua rejeição a uma reforma da Constituição que lhe teria permitido em 2008 ser reeleito pela terceira vez consecutiva.
"A melhor prova é a decisão de deixar meu posto (de presidente) após dois mandatos. Se tivesse considerado que era melhor optar pela via do autoritarismo, teria mudado a Constituição, era fácil fazer isso", disse.
Vladimir Putin abandonou seu cargo de presidente em 2008 após dois mandatos de quatro anos. Mas após esse período assumiu a posição de primeiro-ministro, enquanto o ex-chefe de Governo do país Dmitri Medvedev foi eleito presidente.
Desde sua eleição, Putin enfrenta um movimento de protesto sem precedentes e as críticas da oposição, que o acusa de limitar as liberdades públicas. Várias dezenas de opositores estão na prisão e alguns, em prisão preventiva, podem ser condenados a campos de reclusão.
"Temos o sentimento de que aqui a democracia é o trotskismo, a anarquia... mas não é o caso. Se alguém considera que a democracia e o respeito às leis são duas coisas diferentes, se equivoca", acrescentou Putin.
Proibição aos americanos de adotar crianças russas
O presidente russo também considerou apropriada a decisão adotada na véspera pela câmara baixa do Parlamento (Duma) de proibir que americanos adotem crianças russas.
"É uma resposta emocional por parte da Duma, mas creio que é apropriada", declarou.
A Duma aprovou na quarta-feira em segunda leitura uma proposta de lei que proíbe aos americanos adotar crianças russas, em resposta às sanções previstas pela chamada lei Magnitski do Congresso americano.
Esta lei proíbe a entrada nos Estados Unidos de autoridades russas envolvidas na morte na prisão em 2009 em Moscou do jurista russo Serguei Magnitski ou em outras violações dos direitos humanos. Também prevê confiscar seus bens.
Putin criticou novamente a lei Magnitski, que classificou de "ato não amistoso", assim como os muitos problemas sobre os direitos humanos nos Estados Unidos.
Sobre a prisão de Guantánamo, Putin assegurou que os americanos "mantêm pessoas na prisão há anos sem nem mesmo apresentar uma ata de acusação (contra elas). É impensável. Eles as acorrentam, como na Idade Média... e legalizaram o uso da tortura... Imaginem se nós tivéssemos feito isso? Há quanto tempo se prometeu fechar Guantánamo?... E nos dizem que temos problemas!".
Putin começou a coletiva de imprensa comemorando a situação econômica do país. "Os resultados são bons, sobretudo em comparação com a recessão na Eurozona e a desaceleração da economia dos Estados Unidos. A situação é muito mais favorável para nós", afirmou.
Também rejeitou os rumores sobre seus problemas de saúde. "A esse respeito, podem continuar esperando", disse.
O líder russo também declarou estar disposto a conceder residência ou dar um passaporte russo ao ator francês Gerard Depardieu, que anunciou recentemente que deixaria a França para se instalar na Bélgica.
"Se Gerard quer realmente ter um visto de residência ou um passaporte russo, o assunto já está resolvido e de maneira positiva", disse Putin.
E também fez sua contribuição ao debate sobre o suposto fim do mundo de 21 de dezembro, afirmando que irá ocorrer em 4,5 bilhões de anos porque "é o funcionamento de nosso sol".