Quando os ventos sopram a favor

Jornal O Norte
06/12/2006 às 10:45.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:45

Valéria Esteves


Repórter


onorte@onorte.net

Quando a força de vontade fala mais alto. Com humildade e muito otimismo Célia Maria de Oliveira Alves, 34, vence obstáculos e abre sua primeira loja. Ela que descende de família simples, oriunda das imediações da fazenda Traçadal, zona rural de Montes Claros, veio para a cidade, com a força e a coragem, vender hortaliças para sobreviver.




(foto: Wilson Medeiros)

Hoje a realidade é um pouco diferente para essa micro-empresária que foi, por 18 anos, lavadeira, passadeira e faxineira em 11 casas em Montes Claros. Nem o desânimo e os tantos obstáculos enfrentados por sua família, como a perda do emprego do esposo, foram empecilho para que a sonhadora Célia, que espera um dia fazer uma viagem ao exterior, montasse sua loja. Seja na cidade ou na zona rural, especialmente em Traçadal, Pentáurea, Santa Bárbara e Planalto, a comerciante que diz ter aprendido a comercializar olhando seus patrões, vende roupas no melhor estilo mascate, ou vendedora ambulante - como quiser.

- Meu sonho era ter meu próprio negócio, e posso afirmar que nem mesmo a loja vende mais do que as entregas em domicílio que faço na zona rural. Com meu esforço, ainda quando era lavadeira, tive condições de fazer auto-escola, tirar minha carteira de habilitação e comprar, logo em seguida, meu carro. É verdade que tive que vender minha casa e pegar os tempos de serviço do meu marido para montar a loja, e ainda assim faltou capital, mas o que vale é que já estou vencendo - diz.

Célia aproveitou o bom convívio com seus patrões para se inteirar do que acontece no mundo dos negócios e, assim, vender os cosméticos e roupas que comprava em Divinópolis/MG.

Uma semana depois de abrir a Célia Modas, no bairro Maracanã, a procura já é significativa. A expectativa da micro-empresário é que as vendas alcancem um total de R$5 aproximadamente, sem somar a esse valor as vendas fechadas na zona rural.

- Posso dizer que hoje, graças a Deus, atendo a ricos e pobres, porque até meus patrões compram em minha mão. Minha vontade é montar outra loja no centro da cidade e já tenho apoio para tal. Fui e ainda sou sacoleira e não posso abrir mão disso porque meus maiores lucros vêm da zona rural, onde os clientes, por incrível que pareça, são mais exigentes e preferem produtos mais caros, o contrário do que se vê na cidade – diz.

Mesmo sendo vendedora ambulante, na visão de Célia, o sonho de montar a loja, estruturá-la, se não seria possível não houvesse capital de giro. Para comprar suas mercadorias, ela participou de um curso de capacitação e, junto com outras três pessoas, formou um grupo e fez um empréstimo.

- Já tomei cinco empréstimos no BNB e venho pagando tudo certinho e, por sinal, quero continuar tomando esse empréstimo para ornamentar minha loja e comprar mais mercadorias – diz.

Para a micro-empresária o que ainda falta é alçar vôos que a levem rumo ao exterior. Ela, que de acordo com os moradores do Maracanã, é um exemplo de perseverança e força de vontade, construiu sua casa em cima da loja.

- Queria que minha história fosse contada, como consegui montar meu negócio; e desde a época do curso eu falava assim como para meus patrões, que ainda seria uma comerciante reconhecida. Isso está acontecendo, sou mãe de dois filhos e os sustento com o trabalho meu e do meu esposo. Ainda terei a chance de viajar para outro país para falar de minha vitória, para que sirva de exemplo para quem tem sonho de crescer na vida – comemora.

A Célia Modas foi inaugurada no último sábado, 2, com presença significativa de pessoas que já são clientes de Célia Maria Oliveira, e aquelas que provavelmente ainda serão. Como aprendeu no curso, divulgou a inauguração em rádios da cidade, distribuiu panfletos e reuniu as pessoas.

E como bem defende Célia, o cliente pede produtos de qualidade e bom atendimento.

CRÉDITO

Segundo informou o BNB, em menos de um ano, o banco praticamente duplicou suas aplicações junto às micro e pequenas empresas nordestinas urbanas e formais, passando de R$ 148 milhões financiados em todo o ano de 2005, para mais de R$ 300 milhões de janeiro até 22 de novembro de 2006. A expectativa é que o Banco feche o ano com um montante superior a R$ 350 milhões destinados ao setor.

Só a superintendência estadual para o Norte de Minas Gerais e Espírito Santo, através de suas agências, já investiu cerca de R$ 16,8 milhões em financiamentos de longo e curto prazo paras as MPEs mineiras. Valor 49 % maior que o resultado total de 2005, quando foram aplicados 8,6 milhões no setor.

O superintendente Nilo Meira diz que o apoio do banco aos micro-empreendedores do segmento urbano informal da economia tem como objetivo proporcionar uma chance de trabalho e gerar renda para a própria subsistência.

- Até outubro de 2006 o BNB aplicou no Norte de Minas cerca de R 22,3 milhões, em 19,9 mil empréstimos, contribuindo para a sustentabilidade social e econômica desses microempresários - conclui.

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