Queda na renda do brasileiro favorece lojas de consertos

Janaína Oliveira
joliveira@hojeemdia.com.br
02/12/2016 às 22:37.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:55

Ao invés de correr para a loja mais próxima e dividir o pagamento em parcelas a perder de vista no cartão de crédito, o aperto financeiro tem feito com que o consumidor pense duas vezes e tome o caminho da assistência técnica ou reformadora.

No lugar da compra de produtos novinhos em folha, consertar sapatos, malas, bolsas, roupas e aparelhos domésticos e eletrônicos tem sido a opção para grande parte da população. Em empresas especializadas de Belo Horizonte, o aumento da clientela chega a 70% neste ano, na comparação com 2015.
Enquanto lojas tradicionais fecham portas e cortam empregos, na Skybags Reformadora de Malas e Bolsas, na Floresta, o movimento é tanto que dois funcionários foram chamados para reforçar a equipe.

“Com a fase ruim da economia, a intenção dos consumidores é gastar o mínimo possível. Há uma clara migração das lojas para as oficinas de reparo. Para nós, a clientela cresceu entre 60% e 70% em 2016 com relação a 2015”, diz um dos proprietários da Skybags, João Elias Dias.

Ele garante que a economia com o reparo não é pequena. Uma mala nova de uma marca conhecida, por exemplo, custa em torno de R$ 600. Já a troca de uma alça original fica entre R$ 25 e R$ 50.

Customização
Tirar roupas sem uso do armário e customizá-las virou moda com a crise. Na Sapataria do Futuro, franquia que oferece reforma de vestuário e acessórios, a busca por serviços cresceu 15% em novembro, ante igual mês de 2015.

“As clientes pegam as roupas esquecidas na gaveta e trazem para dar uma cara de nova. Abrimos decote, colocamos renda, transformamos calça em bermuda. A ideia é aproveitar o que já tem em casa”, conta a sócia da unidade do BH Shopping, Rosalina Cipriano.

Segundo ela, é tão forte a tendência que costureiras que haviam sumido do mapa, agora voltam a ficar disputadas. “É só andar na rua para ver várias portinhas abrindo com a oferta do serviço”, afirma.

Também foi-se o tempo em que um simples defeito no telefone era motivo para substituir o aparelho. No Universo do Celular, no Funcionários, até cliente abastado mudou de atitude. “Mesmo gente da classe alta tem nos procurado”, diz o dono da loja, Luiz Carlos Botelho. O conserto custa, em média, R$ 100.

Na SOS Reparos Hidráulicos, no Renascença, a demanda cresceu 20%. “Sai mais barato e fica perfeito”, afirma o proprietário José Lúcio Cerqueira.
E nada de comprar adereços de Natal. A onda é colocar pra funcionar os velhos enfeites. “Não paro de receber bonecos de Papai Noel para consertar”, diz Renato Sales, do Hospital dos Brinquedos.

 No aperto, brasileiro muda hábito e apela para o ‘jeitinho

 Com a queda real da renda das famílias e a escalada do desemprego, uma parcela da população que havia ascendido economicamente desceu um degrau e se viu obrigada a mudar hábitos.

“Antes de ser financeira, a crise é de origem de confiança. E quando há incerteza sobre o futuro, todo mundo coloca o pé no freio, com reflexo no consumo”, diz a diretora do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Patricia Cotti.

Segundo ela, com o cenário nebuloso, alguns comportamentos começam a se destacar. E um deles é o de “salvar” dinheiro e consertar um produto em vez de adquirir um novo. “Nesse cenário, o setor de reformas e consertos cresce bastante”, afirma.

Para Patrícia, a conjuntura desfavorável faz crescer o “jeitinho”. “O consumidor que já está endividado leva o equipamento pra consertar e posterga a compra”, afirma. No entanto, ela não acredita que essa seja uma atitude que veio para ficar. “O brasileiro ainda vê a compra como realização pessoal. Há muito para amadurecer”, diz.

  

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