Quem manda no bordel

17/07/2016 às 20:02.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:20

É na obviedade que se encontra a verdade. De maneira alguma sou contra à complexidade intelectual, mas acredito que na maior parte das vezes o raciocínio simples nos leva diretamente ao fundamental.

Vejamos o seguinte: temos hoje no comando da economia um ex-banqueiro. O ministro da Fazenda Henrique Meirelles foi funcionário do Bank Boston por quase 30 anos, onde chegou a presidente mundial.

E temos, no Brasil, um problema econômico estrutural que é a prevalência dos interesses do capital financeiro sobre o capital produtivo, que está na raiz de todas as nossas mazelas: crescimento medíocre, concentração de renda, desestímulo ao investimento, tributação irracional, injustiça social e especulação financeira.

O lógico, se se quer de fato mudar o país e colocá-lo numa nova dinâmica de desenvolvimento estruturado, seria colocar na direção da economia um representante do capital produtivo ou alguém identificado com a produção e o trabalho, com sensibilidade para ouvir aqueles que pisam o chão da fábrica ou encostam a barriga no balcão.

Mas não para o presidente interino Michel Temer, com seu raciocínio de curtíssimo prazo, objetivos meramente políticos e fixação no impeachment. Sua equipe econômica, ironicamente saudada pelo mercado financeiro como um ‘dream team’, representa a continuidade do nosso atraso e do descaso para com as nossas potencialidades.

Para não sermos levianos na crítica, vamos, então, a esse dream team. Na direção do Banco Central temos como presidente Ilan Goldfajn, até então economista chefe do banco Itaú. Para a diretoria de Política Monetária, responsável pela execução da política cambial, Ilan chamou Reinaldo Le Grazie, ex-diretor do Bradesco Asset Management (administração de fundos de investimento para grandes fortunas). Na diretoria de Política Econômica, responsável por dar ou tirar liquidez da economia, está Carlos Viana, que era economista-chefe da Opportunity Asset e, antes disso, gestor de fundos do antigo BBA.

Paro por aqui. Outras diretorias menos importantes do BC também estão dominadas por pessoas do mercado financeiro, como a de Assuntos Internacionais, onde Tiago Berriel veio da gestora de fundos Pacífico, mas acho que já basta. Meirelles é Bank Boston, Ilan é Itaú, Le Grazie é Bradesco, Viana é Opportunity, Berriel é Pacífico. Esse é o dream team dos bancos e especuladores.

É esta a resposta de Temer aos empresários que patrocinaram a saída de Dilma. Tudo continuará como sempre esteve. Se quiser ganhar dinheiro, que vá ao mercado financeiro. Se insistir na produção e quebrar, condolências.

Em retrospecto, o pato da Fiesp na avenida Paulista e a faixa “Renúncia Já” colocada na fachada do prédio da entidade ficam ainda mais ridículos. Está claríssimo que a indústria tramou mas não ganhou nada com a derrubada da presidente. Sai Dilma, entra Temer, e quem manda no bordel continua sendo os banqueiros. Os juros continuarão os mais altos do mundo, o câmbio, sobrevalorizado, o crédito, escasso, os investimentos, nenhum, e o dinheiro, concentrado nos bancos.

E o mais irônico é que o desequilíbrio fiscal, usado como justificativa para o arrocho monetário, nunca foi tão grande e tende a se agravar. Temer entregará à Dilma (caso retorne) ou ao próximo presidente legitimamente eleito um país em frangalhos, com uma relação entre dívida e PIB inadministrável.

E a conclusão óbvia desse raciocínio simples é que não podemos mais ser governados por Temer.

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