Quem quiser exportar carne terá que obedecer a cartilha imposta pelo mercado

Jornal O Norte
26/11/2007 às 14:56.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:24

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

Missão da UE (União Européia) interdita frigoríficos brasileiros por concluir que não estão totalmente aptos para atender o mercado europeu. As plantas do frigorífico Independência em Anastácio no Mato Grosso do Sul, e do Marfrig em Paranatinga,(MT), foram desabilitadas para exportar. Em contrapartida, os representantes da UE esperam que as mudanças nos frigoríficos ocorram em breve, sendo que os pecuaristas também devem obedecer aos critérios.

Com tantas exigências, os produtores estão preocupados em atender as todas as normas impostas pelo novo Sisbov - serviço brasileiro de rastreabilidade da cadeia produtiva de Bovinos e Bubalinos, que vem se enquadrar às solicitações do mercado externo quanto a qualidade sanitária da carne nacional.




(foto: WILSON MEDEIROS)

Em reunião com o secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, seis secretários estaduais de Agricultura ouviram relatos sobre as conclusões preliminares dos especialistas da UE sobre o Sisbov. Pelo relato, a missão também saiu com má impressão em relação ao trânsito de animais.

- Eles criticaram os controles nas divisas e nas fronteiras, disse o presidente do conselho dos secretários,Gilman Viana.

Segundo ele, as medidas tomadas pelo ministério devem auxiliar na manutenção do status das áreas já habilitadas. Mas alguns negociadores do governo acreditam que o tom usado pelos europeus foi claro: não haverá ampliação da zona habilitada até que o novo Sisbov seja provado capaz de garantir o rastreamento dos animais.

No Norte de Minas onde o rebanho perfaz a casa de 2,5 milhões de reses, os pecuaristas tem sido alertados pelo Ima- Instituto mineiro de agropecuária e pela Sociedade Rural a se cadastrarem no novo Sisbov, visto que o prazo vai até o próximo dia 31 de dezembro.

O presidente da Sociedade Rural, Alexandre Vianna, informou que o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Márcio Portocarrero, afirmou que o prazo para os pecuaristas migrarem do antigo para o novo Sisbov não será prorrogado. Desta forma, frisa Vianna, o descumprimento do prazo implicará a perda de rastreabilidade dos animais, já que o modelo antigo será extinto no dia 1º de janeiro de 2008.

Segundo nota publicada pelo Valor Econômico, na reunião técnica de avaliação do Sisbov, a missão européia considerou um desastre a operacionalização do novo sistema. Diante da péssima repercussão, o ministro Reinhold Stephanes tentou remediar, sem sucesso, a situação. Ouviu dos europeus que a relatório da missão descreveria os achados e as inconformidades, encontradas sobretudo em grandes confinamentos de bois de São Paulo e Goiás.

O ministério decidiu reforçar o status do Sisbov, transferindo a operacionalização e a auditoria do sistema da secretaria de Desenvolvimento Agropecuário para a secretaria de Defesa Agropecuária, como forma de antecipar-se ao relatório que virá.

SISBOV

O Sisbov que funciona por adesão voluntária, tem o propósito de atender aqueles pecuaristas que desejam exportar o gado rastreado. Segundo o Mapa-ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Brasil há um total de 201,417 milhões de cabeças de bubalinos e bovinos e a previsão é que ainda esse ano, sejam aplicadas cerca de 395 milhões de doses da vacina contra febre aftosa.

No circuito que compreende o Norte de Minas a vacinação já terminou, e segundo o delegado do Ima, Humberto Antunes foram vacinados 95% do rebanho da região. Essa porcentagem diz respeito a 1,6 milhões de cabeças de gado com até 24 meses e referentes à delegacia do Ima em Montes Claros.

O sistema é de adesão voluntária, permanecendo a obrigatoriedade nos casos de comercialização para mercados que exijam rastreabilidade, como a União Européia, Chile e Reino Unido.

Vale ressaltar que só podem ser comercializadas e utilizadas no País as vacinas registradas e controladas pelo ministério da Agricultura. É de responsabilidade dos produtores a aplicação das vacinas, mas cabe ao Governo fiscalizar e orientar a vacinação.

No Norte de Minas cerca de 300 a 400 propriedades trabalham com gado para exportação, sendo que comercializam seus animais com o frigorífico Independência em Janaúba, ou o Mataboi e Bertim, ambos no Triângulo Mineiro.

Hoje, o Independência abate diariamente aproximadamente 800 cabeças, com previsão de que esse número chegue a 1.200 em 2008.

PARECER

O Marfrig, que teve sua planta de Paranatinga desabilitada, informou ao mercado que fará pequenas alterações operacionais no Estado de Mato Grosso, onde possui duas plantas de abate, tendo em vista a portaria do ministério sobre a origem do gado para exportação ao mercado europeu. Conforme comunicado, o Marfrig destinará a produção de Tangará da Serra para exportação à União Européia, abatendo somente animais da área I, enquanto a planta de Paranatinga operará com animais da área II para exportação aos demais destinos e para comercialização no mercado interno.

O frigorífico Independência, que teve a planta de Anastácio (MS) desabilitada, informou em comunicado que a suspensão é um procedimento usual de tais auditores, quando encontram alguma dúvida com relação a qualquer operação na unidade produtora. Informou ainda que a companhia já realizou as ações corretivas necessárias às exigências da missão, está remetendo à Brasília os documentos devidos que deverão, então, ser encaminhados à Bruxelas para retorno à lista. Desde 2005, a unidade não exporta para a UE porque as vendas de carne bovina do Mato Grosso do Sul para o bloco foram suspensas após focos de aftosa.

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