(Rovena Rosa/Agência Brasil )
"Pouco se falou desse herói. Salvou muitas crianças que corriam desesperadas, puxando para dentro da sala de aula, fazendo barricadas com mesas na porta e vigiando para ver se os assassinos vinham na direção deles. Parabéns, professor Agnaldo."
O texto foi publicado em rede social por um ex-aluno da Escola Estadual Professor Raul Brasil, alvo do ataque a tiros que deixou dez mortos há uma semana. Na postagem, o rapaz menciona a atuação de Agnaldo Xavier, de 47 anos, que ajudou a esconder cerca de 60 estudantes durante o massacre.
Professor de Matemática há dez anos e do Raul Brasil há cinco, Xavier é um dos funcionários que ajudaram a minimizar os impactos do ataque à escola. "Pensei que era bombinha, mas aí eu fui na porta. Um dos alunos corria, dizendo que era tiro e que mataram a 'tia'. Abri a porta e comecei a gritar para entrar todo mundo. Fechei a porta, mas deixei uma abertura para eu ficar olhando a ação deles, não queria ser pego de surpresa. Não sabia quantos tinha. Só vi dois, mas não sabia se tinha mais", relembra.
À reportagem, o professor se mostrou orgulhoso pela Raul Brasil ser uma das melhores escolas da região. "A minha vida se resume a tentar dar um incentivo para esses jovens, um futuro", conta. Nesta terça-feira, 18, ele foi ao colégio ajudar no acolhimento dos alunos, enquanto faltou ao próprio acolhimento (no dia anterior) para ficar com a filha - ainda assustada, embora estude em outra instituição. "Hoje (terça) teve muitos pais me abraçando e chorando. Alunos gratificados. Deus me colocou no lugar certo, na hora certa."
Sobre a permanência no Raul Brasil, diz não ter dúvidas, "agora mais do que nunca". "Temos de colocar ele (o colégio) no lugar de novo. Se não melhorar (com ações de governo), a gente vai reivindicar."
Silmara
Nesta terça, não faltaram histórias de "heróis" a relembrar. Até uma semana atrás, Silmara Moraes, de 49 anos, era a mãe de três jovens, a "pastora" de uma igreja de Guaianases e a "tia da merenda" do Raul.
Hoje, das redes sociais até o grafite no portão de onde mora, a "Silmara Maravilha" é lembrada como a mulher que usou um freezer para impedir a entrada de atiradoras no refeitório, salvando 60 adolescentes na instituição em que entrou há dez anos.
Silmara conta que conhecia todos os alunos que morreram no massacre. "Lembrava de todos. O Cleiton era o mais quietinho, ficava sempre nos cantos. Lembro dele desde a quinta série."
Na terça, recebeu muitos abraços na volta às aulas, de quem nem sabia que tinha salvo. De uma menina, ganhou trufas e um bicho de pelúcia. "Ainda não caiu a ficha. Eu não vejo por esse lado, como uma heroína. Eu vejo assim, como um coração de amor. Eu faria isso em qualquer lugar que estivesse, acho que seria essa a minha reação, pelo amor que tenho àquele lugar."
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