Automóvel passa por um período de transição que sinaliza estar a um passo de sua mais radical transformação desde que foi inventado, há mais de cem anos. Desde então, ele evoluiu a partir de novas ideias, tecnologias, combustíveis e preocupações ambientais. Tornou-se mais seguro, eficiente, prático, confortável e ecológico.
Inicialmente, sua evolução caminhou lentamente, marcada por inovações mecânicas e elétricas. Como o arranque elétrico que dispensou o motorista de girar a pesada manivela para acionar o motor. Mas, nas últimas décadas, poucas foram as novidades mecânicas: o que mudou no motor, câmbio, freio, direção e suspensão não foram pistões, engrenagens, pastilhas nem amortecedores, mas o gerenciamento eletrônico de todos estes mecanismos e seus componentes.
Como toda e qualquer evolução, a da eletrônica no automóvel também sofreu seus percalços. A Mercedes chegou a instalar freios elétricos numa nova geração de modelos mas recuou da ideia depois de fazer um recall – há pouco mais de dez anos – de quase 700 mil automóveis que simplesmente se recusavam a parar.
Mas a eletrônica é caminho sem volta, não para de avançar e vai gradualmente desenvolvendo soluções mais confiáveis e definitivas. Além de tornar o automóvel mais eficiente, ela o dotou de interatividade: pelo multimídia o motorista reserva um restaurante, hotel, ou se informa sobre o eventual atraso de um vôo. Defeitos do automóvel já podem ser resolvidos a distância conectando-se sua central eletrônica pela internet à concessionária ou fabricante.
Num acidente grave, o carro se comunica com uma central de atendimento e informa sua posição para orientar os veículos de socorro. Melhor ainda é evitar o acidente: acaba de ser desenvolvido um sistema que detecta sua possibilidade por sensores e câmeras. Que enviam informações do trânsito periférico a um processador que trabalha com algoritmos e interfere nos comandos do automóvel para impedir o acidente.
Mas os percalços continuam: todo este avanço abriu a guarda para os piratas da informática, pois se o carro está conectado com a internet, está no ponto para ser gerenciado externamente. Hackers já podem manipular um automóvel remotamente on-line ou num raio de 15 metros dele pelo wi-fi. Interferiram outro dia nos comandos de um Jeep Cherokee e a fábrica teve que fazer um recall de 1,4 milhões deles.
Dias depois, jogaram um veículo experimental da Google para fora da estrada. Por enquanto, ações programadas e anunciadas para provar a fragilidade do sistema. Mas, é uma ferramenta de extrema periculosidade nas mãos de delinquentes. Tanto que vem agora a notícia da criação de uma associação de fábricas e empresas de informática para desenvolver um sistema capaz de proteger o automóvel contra ataques “das nuvens”.
Clientes mais abonados já compram hoje inúmeros modelos mais sofisticados com controles que atuam a partir das informações de sensores e câmeras: ligam faróis quando anoitece e o limpador do para-brisa quando chove. Estacionam, freiam e aceleram de acordo com a velocidade do carro à frente e acionam o volante para manter o automóvel dentro de sua faixa na estrada.
E se toda essa parafernália fosse reunida num mesmo automóvel? Já reuniram: são os veículos autônomos que rodam experimentalmente nos EUA (Google, Microsoft) e na Europa (Mercedes, Volvo).
O que não faltam, como sempre, são os percalços. Mas esta será a próxima e mais radical revolução do automóvel desde que inventado por Benz em 1886: dispensar o motorista. É questão de tempo.