(Editoria de Arte)
Avenida Cristiano Machado, 673, bairro da Graça, região Nordeste de BH. É neste ponto da cidade, pouco antes do viaduto Abgar Renault, no acesso ao túnel da Lagoinha, que está o radar com mais flagrantes de motoristas que desrespeitam a velocidade máxima permitida na metrópole.
Instalado em junho, o aparelho campeão de multas registrou 11.321 infrações de condutores trafegando acima dos 60 quilômetros por hora (km/h), no sentido Centro, até setembro deste ano – média de 94 ocorrências por dia. Nos nove primeiros meses deste ano, mais de 347 mil autuações foram aplicadas na cidade. Os dados são da BHTrans e foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação.
No local onde está o equipamento que lidera o ranking, é possível verificar que a maioria dos motoristas só reduz a velocidade quando chega a poucos metros do sistema eletrônico para, logo depois, acelerar novamente. De acordo com especialistas, esse é um comportamento típico e o principal motivo para o elevado índice de multas.
“É triste, pois mostra que eles não respeitaram a placa indicando a velocidade, mas sim o radar”, afirma o engenheiro e consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto. Ele explica que, ainda assim, a utilização do aparelho é essencial para a redução de desastres. “A velocidade é o elemento mais mortal do trânsito, e precisa ser coibida porque a maioria das pessoas, infelizmente, não tem percepção de risco”.
Adaptação
Hoje, a capital tem 108 radares sob responsabilidade da BHTrans. Segundo a empresa, a escolha dos trechos para a instalação leva em consideração o número e a gravidade dos acidentes com vítimas, fatores técnicos e o potencial risco de novos sinistros.
O especialista em transportes e professor da Fumec Márcio Aguiar destaca que, por ser mais recente, o redutor de velocidade da avenida Cristiano Machado ainda é uma “surpresa” para muitos motoristas. “As pessoas não estão habituadas e, como não observam a sinalização, acabam sendo mais multadas”, explica.
Geometria
A cerca de dez quilômetros dali, na avenida Carlos Luz, próximo à entrada da UFMG, no sentido Mineirão, fica o segundo radar no ranking dos que mais multam na capital. O aparelho captou, de janeiro a setembro, 9.739 veículos trafegando acima da velocidade máxima, que também é de 60 km/h.
“É um local onde a geometria da via contribui para que a pessoa acelere mais. Ainda temos por lá entradas e saídas de bairros importantes, por onde vários motoristas passam em uma velocidade um pouco maior”, explica Márcio Aguiar.
Por nota, a BHTrans informou que os radares “se consolidaram como importante instrumento para o aumento das condições de segurança viária”. Conforme o órgão, quanto mais alta a velocidade, maior o estrago causado em caso de acidente. “A 50 km/h o risco do passageiro dianteiro sofrer lesões graves, mesmo usando o cinto de segurança, é três vezes maior que a 30 km/h”.
Arrecadação
Todo o valor arrecadado com as multas de trânsito na capital – tanto dos radares quanto das anotadas pela Guarda Municipal e Polícia Militar – vão para o Fundo de Transporte Urbano, gerido pela Prefeitura de Belo Horizonte.
Os recursos, de acordo com a BHTrans, são aplicados, exclusivamente, em sinalização viária, engenharia de tráfego, fiscalização e ações educativas, sendo que 5% da verba são destinados ao Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (Funset).
De acordo com dados disponibilizados no site da PBH, mais de R$ 74 milhões já foram recolhidos pelo município, de janeiro a julho deste ano. Desse montante, R$ 50 milhões foram gastos com a implantação e manutenção da sinalização, fiscalização e policiamento e engenharia de tráfego. A menor parcela – R$ 3,7 milhões – foi o investimento em ações de segurança e educação.
Prevenção
Expandir as ações contra o abuso da velocidade no trânsito é tão necessário quanto manter os radares em funcionamento. Quem afirma é a professora Natália Bavoso, do Departamento de Engenharia de Transportes do Cefet-MG.
Ela explica que grande parte da sociedade ainda não compreende que os acidentes de trânsito geram prejuízos para todos, não apenas para os envolvidos na ocorrência. “Vítimas que ficam afastadas do trabalho oneram a sociedade. Os danos na via precisam ser reparados, o que implica em mais despesas”.
Para a docente, ao lado do uso do celular e do consumo de álcool, o excesso de velocidade é um dos principais fatores que causam acidentes. No entanto, Natália defende que a repressão a esse tipo de infração não pode ser isolada. “A falha na educação é a primeira de todas. Como não há educação necessária para o trânsito, o poder público trabalha tardiamente”, avalia Natália Bavoso.