Rastro de destruição mostra ação de 3 diferentes grupos

Heloisa Aruth Sturm
20/06/2013 às 16:57.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:18

O rastro de destruição deixado ao fim de cada protesto - independentemente do estopim ser ou não causado por repressão ou omissão policial - tem mostrado a ação de três diferentes grupos nas manifestações no Rio: os ativistas mais radicais, como pichadores, anarquistas e anarcopunks; os "infiltrados", como acusam alguns manifestantes sobre cooptados para se fazer passar por ativistas e iniciar os tumultos, e os chamados "delinquentes de ocasião", que orbitam pela região dos protestos e tiram proveito para a prática de delitos.

De acordo com os radicais, os ataques são estratégicos e direcionam-se às construções que representam o que os anarquistas consideram instrumentos de opressão. Daí, a insistência em atacar alvos como agências bancárias, igrejas e prédios públicos. Um vídeo postado por integrantes do Black Bloc do Rio mostra como o grupo age. "Os ativistas do Black Bloc não são manifestantes. Eles não estão lá para protestar. Eles estão lá para haver uma intervenção direta contra os mecanismos de opressão. As ações são concebidas para causar danos materiais."

Embora condenados pela grande maioria dos manifestantes, os atos de depredação são considerados justificáveis também por outros grupos, como a Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST) e o Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR). Apesar de afirmar não ter tido participação nos últimos ataques, representantes dos dois coletivos ouvidos pela reportagem consideram esta uma forma legítima de ativismo.

Segundo o MEPR, a radicalização do movimento não é vandalismo, mas resistência. O universitário Igor Mendes, estudante da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e membro do MEPR, comentou os ataques a agências bancárias. "Achamos legítimo. Bancos anunciam lucros recordes ano após ano e as condições de vida só pioram. Não falamos em nome de quem fez ou não fez (as depredações), mas entendemos que é justo. Inclusive os manifestantes demonstraram muita clareza quanto a isso. Os bancos que tirem um pouco do lucro recorde deles para colocar o vidro no lugar. Agora, os ferimentos nos manifestantes, as prisões arbitrárias, isso é um dano irreparável."

Os integrantes do MEPR propõem "a luta combativa e radicalizada" como forma de protesto. "O caminho legalista, parlamentar, pacifista, é um caminho falido!", afirma o grupo em página na internet. A Fist, que teve um militante entre os 18 detidos no protesto do dia 13, alega que quem depredou patrimônio histórico foram policiais infiltrados. "A polícia está empregando, quer seja através de seus efetivos, quer seja através da polícia clandestina, essa posição para colocar a população contra uma manifestação que é legítima", disse o advogado do grupo, André de Paula. Conforme De Paula, os ataques a instituições privadas foram estratégicos. "O fundamental que foi atingido foram aqueles locais que mais massacram o povo."

Os manifestantes "da paz" reconhecem a dificuldade em conter os ânimos dos que optam por meios mais radicais de protesto. "A gente precisa se esforçar mais para coibir esse tipo de prática, mas, infelizmente, existem setores minúsculos organizados que vão nesse intuito, preparados para esse tipo de ação", diz o estudante de letras Igor Mayworm, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que é presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE). O ativista Gabriel Bragança, do grupo Fórum de Lutas, credita esse tipo de comportamento a quem é levado pelo "espírito da massa". "É impossível controlar uma multidão porque se fica irracional num processo como esse."
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