Reajuste do preço do aço deve pressionar a inflação

Jornal O Norte
04/12/2009 às 10:15.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:19

Novas tabelas de preços dos aços planos. Depois dos aumentos que começaram a chegar às distribuidoras de aço, fabricantes de autopeças e eletroeletrônicos esperam reajustes entre 7% e 10% a partir do dia 15, em alguns casos já comunicados pelas siderúrgicas. Na construção civil (aços longos), há muita especulação, mas pelo menos as duas maiores concorrentes, o grupo siderúrgico Gerdau e a ArcelorMittal, negam qualquer correção neste momento. A fabricação de eletrodomésticos e automóveis, segmento disputado pela Usiminas e a CSN-Companhia Siderúrgica Nacional – voltam a levantar a poeira sobre os repasses em cadeia, da matéria-prima às prateleiras do varejo, alimento para a inflação do ano que vem.

- É bom o consumidor pôr as barbas de molho e se preparar para pagar mais por eletrodomésticos, produtos eletrônicos e carros. Mas ainda é cedo para dizer em que medida os reajustes da matéria-prima vão rebater nos produtos finais, segundo o economista André Furtado Braz, do Ibre-Instituto Brasileiro de Economia, braço da Fundação Getulio Vargas (FGV). - Se reajustes dessa magnitude forem confirmados, vão pressionar a inflação, mas isso vai depender de cada produto e a própria concorrência no varejo poderá retardar um pouco os repasses, afirma.

Indústrias como a Suggar Eletrodomésticos pretendem negociar prazos para aplicação dos reajustes esperados pelo mercado, propor o parcelamento para diluição da correção de preços e até buscar outros fornecedores com tabelas mais baixas, na tentativa de evitar o repasse ao varejo, informa José Lúcio Costa, dono da empresa. “Normalmente, não há como deixar de repassar o custo das matérias-primas quando o mercado consumidor se mantém ativo. É a eterna e imutável lei da oferta e da procura que fala mais alto”, afirma. Embora seja difícil estimar qual seria o efeito prático de reajustes, a participação da matéria-prima no custo de fabricação de cada produto final dá algumas pistas.

Imaginando uma correção da ordem de 7,5% das chapas de aço consumidas na produção de eletrodomésticos da Suggar, o produto final poderia encarecer 1,5% para as lojas, confirma Lúcio Costa. Já com reajuste de 10%, o consumidor pagaria 2% a mais. Estudo encomendado pelo IABr- Instituto Aço Brasil, divulgado nesta quarta-feira, mostra que o peso dos componentes em aço na fabricação de produtos da chamada linha branca (fogões e geladeiras) é muito maior do que a participação deles no valor dessas mercadorias. No fogão de quatro bocas, o aço representa 75,4% do total do peso e sua influência no valor do produto atinge 17,88%. Na geladeira de uma porta (241 litros), a matéria-prima participa com 55,1% no peso e 10,03% nos preços. Da mesma forma, o aço compõe 55,7% do peso dos carros populares e 9,01% dos seus preços.

Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do IABr, diz que o levantamento encomendado ao Instituto de Pesquisa Tecnológica é prova de que o aço não pode ser responsabilizado pelo que seria um processo inflacionário. - Participamos de uma cadeia de produção importante e longa em que o aço tem sido usado como instrumento para aumento de preços. Ele pesa muito, mas custa pouco, afirma o executivo. A Usiminas e a CSN informaram, por meio de suas assessorias, que não comentam políticas de preços, negociados caso a caso.

A Gerdau comunicou que não prevê aumento de preços em suas linhas de aços longos comuns e especiais, usados na construção civil, para o mercado brasileiro. Já a ArcelorMittal informou que os preços serão mantidos até o primeiro trimestre de 2010 e não há programação de novos repasses. Para Rubson Lopes, dono da distribuidora Cobraço e vice-presidente da Associação Mineira dos Distribuidores de Aço (Amida), as importações têm barrado as correções da matéria-prima. -  Exportamos vergalhão de aço ao preço médio de US$ 460 e, no mercado interno, as siderúrgicas cobram US$ 1,5 mil por tonelada”, critica. O empresário espera para este mês a chegada ao mercado mineiro dos vergalhões usados na construção importados da Turquia, produto que deve balançar a concorrência.

A produção industrial brasileira cresceu 2,2% em outubro em relação a setembro, segundo dados divulgados quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o 10º mês consecutivo de crescimento. Os segmentos com produção voltada para o mercado interno estão exercendo papel preponderante na recuperação da indústria ao longo de 2009, como veículos automotores,; material eletrônico e equipamentos de comunicações; mobiliário; borracha e plástico e máquinas e equipamentos, com influência de eletrodomésticos da linha branca.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por