Rebeldes atacam locais simbólicos e governo de transição é discutido

AFP
31/07/2012 às 16:30.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:59

  ALEPPO (Síria) - Os rebeldes atacaram locais simbólicos do poder em Aleppo nesta terça-feira (31) como o Tribunal militar, uma base do partido Baath e duas delegacias da capital econômica da Síria, que enfrenta uma batalha decisiva.   As forças governamentais e os rebeldes enviaram reforços para Aleppo "para uma batalha decisiva que deve durar semanas", afirmou uma fonte da segurança síria. "O Exército sírio cercou bairros rebeldes, mas levará algum tempo antes de lançar um ataque em cada bairro" controlado pelos rebeldes, disse a fonte.    Pelo menos 40 policiais sírios foram mortos durante os ataques rebeldes às delegacias no sul de Aleppo (norte), de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).   "Centenas de rebeldes atacaram duas delegacias de polícia em Salhine e Bab Nairab (sul) e pelo menos 40 policiais foram mortos durante os combates, que duraram horas", disse Rami Abdel Rahman, presidente do OSDH.   Os rebeldes atacaram nesta madrugada a sede do Tribunal militar e uma base do partido Baath na cidade, segundo o OSDH.   Os combates também eclodiram perto de uma base da Aeronáutica, no distrito de al-Zahra, no oeste e na periferia do distrito de Salaheddin (sudoeste), o principal reduto rebelde sitiado pelas tropas regulares.   Ao contrário dos dias anteriores, nenhum bombardeio foi ouvido na cidade desde a manhã desta terça-feira, de acordo com um jornalista da AFP.   O Exército lançou uma grande ofensiva no sábado, após a abertura da frente de Aleppo, em 20 de julho, e da chegada de reforços militares.   Clãs em batalha   Em Bab Nairab, sudoeste de Aleppo, confrontos foram registrados entre insurgentes "e homens armados do clã Berri", partidários do regime dominado pelos alauítas, um ramo do Islã xiita, segundo Abdel Rahmane.   O fato de o regime permitir que esses clãs xiitas participem dos combates ao lado do Exército "significa que ele quer mergulhar o país em uma guerra civil", disse.   Segunda-feira os rebeldes tomaram um posto de controle estratégico em Andane, que permite enviar reforços e munições para Aleppo pelo caminho aberto até a fronteira com a Turquia, a 45 km de distância.   Os bombardeios executados por helicópteros e pela artilharia pesada nesta cidade de 2,5 milhões de habitantes e em seus arredores obrigaram cerca de 200.000 pessoas a fugirem, segundo a ONU.   De acordo com a porta-voz do Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas (Acnur), Melissa Fleming, alguns civis preferem não deixar a cidade e procurar refúgio em escolas e dormitórios por considerarem a viagem para fora da cidade muito perigosa, principalmente devido à presença de franco-atiradores e bloqueios nas estradas.    "Em Damasco, nosso escritório ainda está operacional, mas apenas em 50%", devido a restrições relacionadas com a segurança, explicou.   E o êxodo de sírios fugindo da violência continua. Mais de 267.000 pessoas, nem todas registradas no Acnur, deixaram a Síria desde o início da revolta, segundo os últimos dados da organização.   Os combates foram retomados em Damasco, após uma semana de confrontos em meados de julho. Os principais combates aconteceram no bairro de Kafar Soussé, depois de um ataque rebelde contra uma barreira militar.   Direitos em tempos de guerra   A ONG francesa Médicos do Mundo (MDM) pediu que os envolvidos no conflito respeitem as regras de direito em tempos de guerra, acusando-os de não proteger os civis e feridos, impedir o trabalho dos médicos e de bombardear hospitais.   O regime sofreu mais um golpe com a renúncia na segunda-feira do encarregado dos negócios sírios em Londres, Jaled al-Ayubi, o mais alto diplomata sírio no Reino Unido, que quis denunciar a repressão de seu país.   Esta é a quinta renúncia de um diplomata sírio desde o início da revolta.   O Irã, aliado do regime, alertou que "não permitirá o inimigo avançar" na Síria, mas acrescentou que não vê a necessidade de intervir neste momento.   Governo de transição   O opositor sírio, Haytham al-Maleh, anunciou nesta terça-feira que havia sido encarregado por uma coalizão de sírios "independentes e sem afiliação política" de formar um governo no exílio, que terá sua sede no Cairo.   "Fui encarregado de dirigir um governo de transição (...) e de começar as consultas" com a oposição na Síria e no exterior, afirmou durante uma coletiva de imprensa na capital egípcia.   Maleh, 81 anos, é um advogado e defensor dos direitos Humanos que passou muitos anos na prisão.    Ele trabalhou para a Anistia Internacional e ajudou a fundar a Associação Síria dos Direitos Humanos (ADHS) em 2001, cujas atividades estão paralisadas há quatro anos.   Maleh explicou a decisão de formar um governo pelo medo de um "vazio" político em caso de queda do presidente Bashar al-Assad.   "Não queremos ficar em uma situação de vazio político e administrativo", disse. "Esta fase necessita da cooperação entre todas as partes", acrescentou.   Este anúncio ocorre um dia depois do Exército Sírio Livre (ESL), formado por desertores e civis armados, apresentar um "programa de salvação nacional", planejando a formação de um conselho presidencial de seis personalidades políticas e militares que lideraria a transição após a queda de Assad.   Esta instância ficaria encarregada de "propor leis, submetidas à referendo, para reestruturar os organismos militares e de segurança e propor soluções para integrar os civis que combateram durante a revolução", de acordo com o ESL.

Abdel Basset Sayda, presidente do Conselho Nacional Sírio (CNS), principal coalizão opositora, anunciou no sábado que iria discutir com grupos rebeldes presentes no terreno sobre um governo de transição, que seria dirigido por uma personalidade envolvida na contestação desde seu início.   Em 21 de julho, o chanceler francês, Laurent Fabius, apelou a oposição síria ára formar rapidamente "um governo provisório representativo da diversidade da sociedade síria".

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