Recorde sem upgrade: número de candidatos em Minas cresce 14%, mas cenário não garante renovação

Lucas Simões
primeiroplano@hojeemdia.com.br
16/08/2018 às 21:59.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:57
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

Nem mesmo o número recorde de candidatos em Minas Gerais nas eleições deste ano será suficiente para garantir uma renovação das casas legislativas, segundo analistas políticos. Com 2.217 registros feitos no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), 14% a mais do que na última eleição majoritária – em 2014 foram 1.943 candidatos concorrendo – as eleições de 2018 deverão reeleger cerca de 90% dos deputados estaduais e federais, enquanto a disputa pelo governo tende a ser polarizada entre PT e PSDB, apesar de nove candidatos estarem na disputa pelo Palácio da Liberdade.

Vale ressaltar que as estatísticas ainda podem mudar, vez que apenas em 20 de agosto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgará o resultado fechado das candidaturas, que podem ser deferidas ou não.

Na ALMG, são 1.305 postulantes a uma vaga. Porém, apenas seis dos 77 atuais parlamentares da Casa não vão tentar a reeleição. Entre eles, nomes fortes como Cabo Júlio (MDB), atualmente preso no Corpo de Bombeiros, condenado no esquema da Máfia dos Sanguessugas; Rogério Corrêa (PT), que vai deixar a Assembleia para concorrer à Câmara Federal; e Paulo Guedes (PT), indicado pelo partido para concorrer na segunda vaga ao Senado.

Apesar de o PT ter registrado Jorge Luna como postulante ao Senado, ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff, ontem o partido decidiu trocar a indicação de Luna por Guedes. Entretanto, o deputado federal Miguel Corrêa (PT) anunciou que vai à Justiça contra a troca, anunciando um racha na cúpula petista. Corrêa sustenta que apenas ele e Dilma colocaram seus nomes à disposição para a vaga ao Senado, na convenção petista, realizada em 5 de agosto. Até o fechamento desta edição, o PT ainda não havia oficializado a troca das candidaturas no TRE-MG.

Na Câmara Federal, 849 candidatos disputam uma vaga por Minas. Mas, apenas dez dos 53 atuais deputados da bancada não irão tentar a reeleição, a exemplo de Bonifácio de Andrada (MDB), que aos 88 anos deve deixar a vida pública, e Rodrigo Pacheco (DEM), que abandonou a disputa pelo governo para compor a chapa de Antonio Anastasia (PSDB) ao Senado.

Para o advogado Luciano Santos, especialista em direito e reforma eleitoral, o fato de a maioria dos atuais deputados tentar a reeleição, ancorados por uma reforma eleitoral que favorece candidatos mais conhecidos, vai barrar a ascensão de novatos.

“Devemos ter 90% dos deputados atuais reeleitos. Primeiro porque os candidatos com mandatos têm preferência na distribuição do dinheiro que sustenta as campanhas e também no tempo de TV. Só 2% do dinheiro é distribuído igualmente entre as legendas, enquanto 98% vai para legendas maiores. Além disso, fazendo as coligações, teremos novamente o efeito de puxadores de voto, que favorecem partidos grandes. Para alguém de fora dessa bolha ser eleito, tem que ter uma base de eleitorado muito bem construída”, diz Luciano.

Situação similar permeia a disputa pelo governo de Minas. Apesar de nove candidatos disputarem o Palácio da Liberdade, apenas três apresentam, até o momento, chances reais de conquistar o eleitorado: Antonio Anastasia (PSDB), Fernando Pimentel (PT) e Marcio Lacerda (PSB) — sendo que o peessebista ainda corre o risco de ter a candidatura impugnada pela Justiça, diante o embate travado com a executiva nacional do partido, em um imbróglio judicial que já dura três semanas.

O advogado Mauro Bonfim, especialista em direito eleitoral, avalia que o tempo de TV e rádio, distribuído proporcionalmente para partidos que montam coligações maiores, dificulta a projeção de novos candidatos. “É praticamente impossível vencer sem coligação. E, infelizmente, esse modelo favorece partidos grandes, ou seja, um ou dois candidatos que reúnem partidos menores e falam para mais pessoas na TV”, diz Mauro.
 

Anastasia e Zema dão largada às campanhas
e fazem corpo a corpo com o eleitorado

Os candidatos Antonio Anastasia (PSDB) e Romeu Zema (Novo) foram os primeiros a começar oficialmente a campanha eleitoral, autorizada pelo TSE a partir de ontem. Anastasia visitou a fábrica da Suggar Eletrodomésticos, na região Oeste da capital, e respondeu às perguntas dos funcionários sobre o seu plano de governo. Zema foi ao tradicional Café Nice, no centro de Belo Horizonte. 

Os candidatos Fernando Pimentel (PT) e Marcio Lacerda (PSB) optaram por aguardar decisões importantes dos partidos antes de darem início à temporada de campanhas. 

De acordo com Anastasia, a escolha da empresa Suggar para dar a largada não foi ocasional. “Eu pedi para que o primeiro dia fosse aqui, porque vocês representam muito bem Minas Gerais. Uma empresa que começou com quatro funcionários, venceu crises e hoje tem 40 anos de história. Produzem os produtos usando o aço da Usiminas, que, por sua vez, usa o minério de ferro das nossas minas. Isso é agregar valor aos produtos. Não podemos ser apenas exportadores de café”, disse.

Respondendo aos questionamentos dos eleitores presentes, Anastasia esclareceu pontos importantes do seu plano de governo. Sobre a melhoria das estradas, o senador reconheceu que não é possível asfaltar todos os pontos necessários, mas considerou a privatização para solucionar parte do problema. 

“Não vou mentir dizendo que vou asfaltar todas, mas tão logo haja equilíbrio financeiro nós vamos dar atenção a isso, fazendo inclusive parcerias com empresas privadas. É importante ressaltar, contudo, que a maior parte das estradas é de responsabilidade do governo federal, que não investe em Minas há 30 anos. Com a possibilidade do (Geraldo) Alckmin ser eleito presidente da República, teremos uma dobradinha e ele se comprometeu a dar a Minas o que Minas merece”, conta. 

Para incentivar a criação de empregos, Anastasia aposta na redução da burocracia e em incentivos ao empresariado. “Temos dezenas de licenças ambientais paradas hoje por motivos burocráticos. Se aprovadas, elas vão gerar milhares de empregos. As coisas precisam andar mais rápido neste aspecto, criar-se um ambiente simpático para que as empresas gerem empregos”, disse. 

Já o candidato Romeu Zema (Novo) dedicou o primeiro dia de campanha para conversar com eleitores na Praça 7, fazendo uma visita ao tradicional Café Nice, na avenida Afonso Pena. “Eu tenho certeza que nenhum outro partido se arriscaria a fazer o que nós fizemos. Fomos uniformizados e com bandeiras. É um momento de contato direto com o povo que vamos fazer diariamente. Ficou claro que as pessoas querem e desejam algo novo”, disse Zema. 

Hoje, o candidato do Partido Novo fará campanha em Ibiá e Uberaba e, amanhã, ele fará o lançamento oficial da campanha em Araxá, com a presença de João Amoêdo.

© Copyright 2025Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por