Leio nos jornais que a Presidência do Senado Federal quer acelerar a votação da reforma trabalhista. Quanta pressa para fazer um mal tão grande! Para além das questões econômicas, as reformas regressivas (ou seja, que irão elevar os já imoralmente altos níveis de desigualdade socioeconômica do Brasil) terão desastrosos impactos sociais.
Robert Gordon, professor de Economia da Universidade Northwestern (de Chicago, nos EUA), publicou, em 2016, um livro no qual mostra que os impactos da atual revolução tecnológica sobre a produtividade, o crescimento econômico e a qualidade de vida da população são muito modestos quando comparados à revolução industrial. O mesmo se pode dizer dos aspectos sociais!
Nos EUA, o processo de transformação econômica das últimas décadas tem sido acompanhado por uma forte desagregação social. Os também economistas Angus Deaton e Anne Case, de Princeton, descobriram que algo bastante anômalo está ocorrendo por lá: uma elevação na taxa de mortalidade de uma parcela da população, mais especificamente, os brancos de meia idade. No mundo contemporâneo, elevação de mortalidade é algo que só ocorreu em países que vivenciaram situações de guerra ou grandes colapsos, como o ocorrido na Rússia logo após o fim da URSS.
A elevação da mortalidade nos EUA está associada a duas causas mortis: suicídio e overdose de drogas lícitas e ilícitas. Émile Durkheim, um dos pais da sociologia, desenvolveu a primeira teoria sociológica do suicídio e viu na anomia uma de suas causas. A anomia é um estado coletivo no qual há um vácuo de normas sociais, causando assim a perda de identidade dos indivíduos. A crescente flexibilização do mercado de trabalho nos EUA tem gerado um estado de anomia. O emprego industrial estável dava aos indivíduos um senso de identidade e propósito de vida, algo que está sendo perdido por completo. A eleição de Donald Trump é apenas um dos sintomas desse processo.
A reforma trabalhista que está em processo de votação no Senado, caso venha a ser aprovada, jogará o Brasil num processo de degradação do trabalho semelhante ao que tem ocorrido nos EUA, porém com o agravante de sermos um país com uma renda per capita que é apenas 20% da americana e com um mercado de trabalho já marcado pela precarização, com uma enorme economia informal. Mesmo que essa reforma trabalhista viesse a gerar empregos (algo muito duvidoso), vê-se com o caso americano que seriam empregos bastante precários, incapazes de prover identidade e propósito de vida para as pessoas.
A consequência será um crescente estado de anomia!