Refugiados de conflitos no Oriente Médio e na África que cruzaram o Mar Mediterrâneo em direção à Europa revelaram à ONU (Organização das Nações Unidas) as condições desumanas das viagens que fizeram. Entre outros abusos, contam que traficantes os agrediram, os trancafiaram nos porões dos barcos e chegaram a cobrar para que pudessem sair para respirar.
"Não queríamos descer para os porões, mas nos batiam com paus para nos obrigar. Não tínhamos ar, então tentávamos voltar para cima pela escotilha e respirar pelas rachaduras no teto. Mas os outros passageiros ficaram com medo que o barco virasse então também nos empurravam e nos batiam. Alguns ficavam pisando nas nossas mãos", conta o sudanês Abdel, 25, que sobreviveu a uma viagem em um barco achado na Líbia nessa quarta (26) com 51 mortos por sufocamento.
O cirurgião ortopédico Mahdi, outro sobrevivente da embarcação, conta que pagou 3 mil euros para que ele, sua mulher e sua filha de dois anos viajassem no deck superior. Nesta quinta (27), o naufrágio de dois barcos de traficantes na costa da Líbia deixou ao menos 200 refugiados mortos. No mesmo dia, um caminhão que transportava imigrantes foi encontrado na Áustria com 71 corpos em decomposição. Neste sábado (29), outro veículo foi achado no país, com 26 refugiados vivos.
Segundo a UNHCR, Agência de Refugiados da ONU, mais de 300 mil pessoas já cruzaram o Mediterrâneo para chegar à Europa neste ano. Desses, 200 mil desembarcaram na Grécia e 110 mil na Itália. No ano passado inteiro, 219 mil tentaram a travessia. Ainda de acordo com a agência, 2.500 refugiados já morreram neste ano tentando chegar ao continente; no ano passado, foram 3.500.
"Os refugiados frequentemente estão fisicamente exausto e psicologicamente traumatizados, eles precisam de proteção internacional", declarou a porta-voz Melissa Fleming. " A UNHCR pede que todos os governos envolvidos deem uma resposta abrangente e ajam com humanidade e em acordo com suas obrigações internacionais", disse.
A União Europeia elaborou um plano para lidar com a crise migratória. Entre as medidas, estão missões navais de salvamento e subsídio de alimentos, remédios e abrigo para países que receberem refugiados. Ele também prevê deportação mais rápida de imigrantes econômicos que tiverem o status de refugiado negado.