Regina Casé vive pregoeira no filme ‘Made in China’

Luiz Carlos Merten
09/12/2013 às 10:00.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:39

Regina Casé participava de um evento com crianças. Chegou com o marido. Um garotinho perguntou: "É seu segurança?" Espontaneamente, ela respondeu: "Ele é a minha segurança". Regina não tem medo de ser piegas e o marido cineasta, Estevão Ciavatta, também não. Se você lhe perguntar o que a mulher representa em sua vida, ele responde rápido: "A minha luz". E você pode jurar que o olho dele fica um pouquinho úmido. Regina e Ciavatta começaram a trabalhar juntos há 17 anos, casaram-se há 14 (em 1999). Ela veio do teatro, do Asdrúbal Trouxe o Trombone, e virou estrela de TV. Ele veio do curta, e também foi para a TV. "Por causa disso, tem gente que me acha traidor", diz.

Muitos anos e programas depois, Ciavatta realiza o primeiro longa, e quem interpreta? Regina. O encontro com os dois faz-se em um estúdio da Freguesia, zona oeste do Rio, onde está sendo filmado Made in China. O projeto começou a nascer em 2003. Há dez anos! Você pode imaginar que numa comédia, e em um filme com a Casé, todo mundo ia querer colocar dinheiro. Foi duro levantar a produção, mas isso é o passado. Made in China está saindo do papel. Há uma década, Ciavatta, que sempre foi atraído pelo Saara - não o deserto, mas a área de comércio popular no Centro do Rio, a 25 de Março carioca -, captou os sinais da mudança.

A Saara sempre foi uma área miscigenada, que abrigava judeus, ‘turcos’ (e libaneses), além das irmandades negras mais antigas do Rio. Por volta de 2003, começaram a chegar os chineses. E chegaram com dinheiro. Compraram prédios, que transformaram em lojas para expor (e vender) suas mercadorias. Made in China é sobre esse momento de transformação. Regina faz Francis, funcionária na Casa São Jorge, do seu Nafuz. Em frente, fica a Casa do Dragão. Além de vendedora, Francis é pregoeira. E fica o dia disputando clientes com Carlos Eduardo, que banca o chamariz para a loja dos ‘chinas’.

Ciavatta, quando vai ao Saara, conhece todo mundo. Mas ele não encontrou o décor de queria, as duas lojas uma de cara para a outra. De qualquer maneira, teria sido difícil com Regina num local tão apertado. "Por que? Você acha que sou alguma diva? Eu, hein? O dia em que eu não puder andar no Saara largo tudo", diz a Casé. Foi uma mistura de praticidade e economia que levou a produção a arcar com umas solução cara, mas funcional. O Saara foi reproduzido em estúdio, outro trabalho prodigioso do diretor de arte Tiago Marques Teixeira, de Tropa de Elite 2.

Houve muita pesquisa para se chegar ao espaço e, depois de levantar as fachadas dos prédios, foi preciso montar as lojas, com suas quinquilharias. O cinema brasileiro pode se orgulhar de seus diretores de arte. Ciavatta orgulha-se. Desde Eu Tu Eles, de Andrucha Waddington, de 2000, Regina não filmava. "Tanto tempo?", ela própria pergunta. Todo ano, suas resoluções sempre incluíam - filmar, voltar a ser atriz, não ser apenas (como se fosse ‘somente’) apresentadora. Este ano, ela está conseguindo.

Na semana passada, com muita choradeira no set, ela terminou a terceira temporada do Esquenta. O programa só volta à grade da Globo em abril. E o que faz Regina nas férias? Além do filme do marido, ela faz, em janeiro, em São Paulo, o novo filme de Anna Muylaert. De volta ao cinema... "Não sou uma atriz de composição, mas sou muito observadora e crio minhas personagens a partir dessas mulheres que conheço e me encantam. A Francis não tem muita instrução, nunca vai ser mais que aquilo que é na loja do seu Nafuz, mas ela é uma guerreira. Põe a vida no que faz, e eu gosto de gente assim."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://www.estadao.com.br

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