Reposicionamento e tal...

20/07/2018 às 20:01.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:31

Há mais de uma década eu trabalho com anúncios de veículos no Seminovos BH – seja prospectando nos feirões ou atendendo por telefone os proprietários e lojistas que querem vender e comprar. Tempo suficiente para testemunhar algumas mudanças provocadas pela tecnologia, os novos tempos, mas também as estratégias nem sempre compreensíveis das montadoras.

No começo, um anúncio era um primor de objetividade. Opcionais? Só o famoso ‘trio elétrico’ (ar-condicionado, vidros elétricos e direção hidráulica), no máximo rodas de liga leve e, nos modelos mais caros, os airbags. Bastava escrever pouco e o veículo estava devidamente oferecido.

Cada vez mais fico feliz com o fato de a internet não ter limites, como o papel. Porque desde então surgiram controles de tração e estabilidade, farois de LED, auxiliares de partida em subida, sensores de ré e estacionamento, câmeras, centrais multimídia, assistentes de permanência em faixa, start/stop, chave keyless e várias outras traquitanas que nem sequer se popularizaram, mas em breve estarão aí, diante dessa preocupação (válida) com a segurança e a condução autônoma (para mim, que ainda sinto prazer em dirigir, menos válida).

Até aí tudo bem, sinal dos tempos, e tanto melhor que quem vai comprar ou vender descreva o produto com o máximo de detalhes. O que realmente incomoda é algo que as fabricantes genericamente chamam de reposicionamento. 

De um ano para o outro, acrescentam e tiram itens de série; mudam a oferta de opcionais e criam kits em que é preciso levar o que não se quer para ter o que se quer. Entendo que há uma lógica de produção, mas nem sempre quem quer airbags a mais pensa também no start/stop; precisa de uma luz diurna de LED quando busca a central multimídia, e assim por diante.

Sem contar as situações em que um determinado modelo que chegou ao mercado com uma pegada mais exclusiva acaba “empobrecido” para ocupar outro nicho ou suprir um buraco na gama de produtos; perde a opção de motores mais modernos e econômicos, anda para trás. 

Siglas ou versões podem nomear veículos completamente diferentes em questão de pouco tempo. E olha que eu não falo de casos de longevidade como duas gerações de um mesmo modelo produzidas simultaneamente, ou daqueles que, para aproveitar o investimento feito, se tornam os pés-de-boi da gama, pelados de praticamente tudo, enquanto as vendas justificam a sobrevivência.

Penso apenas que a cabeça do consumidor acaba, e com razão, confusa diante de tantas mudanças. E muitas vezes com aquela sensação desagradável de quem acabou de comprar uma blusa nova e, duas lojas depois, a encontra 20% mais barata, ou com um brinde pelo mesmo preço. E olha – e mais uma vez eu posso falar com algum conhecimento de causa – que o processo de compra de um carro ou moto está longe de ser simples como o de uma peça de roupa.

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