Resfriar ambientes e aquecer o planeta, o paradoxo do ar condicionado

Agence France-Presse
01/06/2018 às 08:58.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:22
 (Divulgação)

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Quanto mais calor faz, mais aparelhos de ar-condicionado. E quanto mais ares-condicionados, mais calor faz: é o círculo vicioso de uma tecnologia que contribui de forma discreta mas crescente para o aquecimento global.

Nas próximas décadas serão instalados bilhões de novos aparelhos de ar-condicionado em todo o mundo, à medida que os habitantes dos países emergentes com climas quentes obtenham os meios para ter acesso a estes produtos. 

Mas estes aparelhos consomem muita eletricidade, que hoje em dia é gerada principalmente em usinas de carvão ou gás. Estas, por sua vez, emitem gases de efeito estufa que fazem subir as temperaturas. 

A menos que haja uma mudança radical na tendência, está previsto que as emissões de dióxido de carbono relacionadas com os ares-condicionados quase dobrarão entre 2016 e 2050, segundo um relatório publicado em maio pela Agência Internacional de Energia (AIE). 

A quantidade adicional de dióxido de carbono que será liberada na atmosfera é de cerca de um bilhão de toneladas por ano, o equivalente a acrescentar outra África ao planeta.  

- "Crise de frio" -
Mas os ares-condicionados têm outro efeito de aquecimento muito mais direto: aquecem as cidades, porque cada aparelho libera para as ruas o calor que bombeou para resfriar o interior de uma casa ou escritório. 

Um estudo de 2014 mediu que o aumento da temperatura à noite era de até um grau centígrado no centro da cidade. 

O círculo vicioso termina de se formar com o aumento contínuo do nível de vida no mundo, começando por China, Índia e Indonésia, três países que contribuirão com metade do aumento global do consumo elétrico devido ao ar-condicionado. 

No Brasil, Tailândia e Indonésia, quando melhora a renda em uma casa, o ar-condicionado com frequência é uma das primeiras compras. 

A rápida urbanização, especialmente na Índia, está acelerando ainda mais o fenômeno: as maquinarias urbanas, não só os ares-condicionados, geram calor, que por sua vez é absorvido pelo concreto. 

Atualmente há cerca de 1,6 bilhão de ares-condicionados instalados no mundo, dos quais cerca de metade estão nos Estados Unidos e na China. 

Por ano são vendidos cerca de 135 milhões de aparelhos novos, três vezes mais que em 1990, segundo o relatório da AIE. Só na China, o maior mercado do mundo, foram vendidos 53 milhões em 2016. 

Na Índia, só 4% das casas estão equipadas com ar-condicionado, mas tudo indica que a demanda explodirá nas próximas décadas. "O mundo vai sofrer uma crise de frio", adverte Fatih Birol, diretor-executivo do organismo, para quem a questão dos ares-condicionados e calefações é "o ponto cego" do debate energético atual. 

Entre as soluções detalhadas pelo informe estão, entre outras, desenvolver a energia solar, cujo pico de produção, durante o dia, corresponde ao pico de consumo de ares-condicionados, e melhorar o isolamento dos edifícios. 

Mas a prioridade, segundo a AIE, é endurecer as normas sobre o consumo elétrico dos aparelhos. Existem tecnologias energeticamente eficientes, mas os consumidores continuam optando em grande medida por eletrodomésticos mais econômicos e que gastam mais energia, especialmente nos Estados Unidos.

 

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