Entrar em uma máquina do tempo é a sensação que um grupo de pessoas que anda frequentando a Biblioteca Mario de Andrade, no Centro de São Paulo, tem vivenciado. É lá que o jornalista Paulo Markun grava Retrovisor, novo programa do Canal Brasil, previsto para estrear em março, no qual entrevista figuras importantes da história do País, interpretadas por atores.
A cada edição, o apresentador se teletransporta para a época de cada um dos entrevistados e faz um recorte de um dos períodos da vida de líderes políticos e artistas. "Você tem de estar concentrado em um momento da vida do personagem. Não é um balanço, pois muito assunto complica", explica Markun, de 61 anos, dos quais 42 dedicados ao jornalismo em atrações como o Roda Viva.
Na gravação acompanhada pela reportagem, o convidado da vez era o escritor Euclides da Cunha, correspondente de guerra do Estado durante o conflito de Canudos, entre anos de 1896 e 1897. Quem incorporou o autor foi Aury Porto, que esteve nas montagens de Os Sertões no Teatro Oficina. "Convivo com Euclides desde o ano 2000. Mesmo assim, dá um medo de fazer", confessa o ator. Durante a entrevista, gravada sem interrupções, Porto reage da maneira com que imaginava ser o escritor. "Pelo modo de escrever, dava para ver que ele era sério, desconfiado e hipocondríaco. Ele não se divertia, vivia achando que tinha tuberculose", palpita.
Para o programa, Markun e os atores se reúnem pelo menos três vezes antes de gravar, para saber o caminho a tomar na hora da entrevista. A cada duas semanas, a produção se volta para a pesquisa de cada figura histórica. "Não é uma fala decorada, tenho de oferecer informações para o ator. Penso no processo e experiência que tenho, pois é desconstruir uma entrevista. Em cinco minutos, as pessoas já embarcaram. Até pela caracterização."
Se Jô Soares tem seu sexteto para receber o convidado, Markun conta com um pianista clássico que, vestido de fraque, anima a chegada da plateia. Em seguida, uma projeção no palco traz uma breve explicação sobre o entrevistado.
Na contramão dos outros talk-shows, o público também participa com perguntas ao final do bate-papo. "É improviso. As perguntas da plateia não são combinadas. E não tem nenhuma gracinha nem curiosidades. Tudo que ele fala tem fonte bibliográfica consistente", reforça o apresentador.
Antes das perguntas, a produção avalia se as questões cabem naquele contexto do entrevistado. "Têm coisas engraçadas, pois as pessoas querem passar pelo século 21, perguntam sobre a internet. Estamos no ano de cada personagem. Mas ele não fica espantado pelo fato de haver energia elétrica, as câmeras e eu com um tablet na mão", diz. Para não haver problemas com direitos autorais, os convidados são de períodos de pelo menos 70 anos atrás. "É divertido e com rigor de pesquisa. O objetivo é atrair público para conhecer nossa história."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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