O empresário Ricardo Magro, dono da refinaria de Manguinhos, se tornou réu em processo que investiga desvio de recursos dos fundos de pensão dos Correios, o Postalis, e da Petrobras, o Petros. A Justiça acatou a denúncia contra outras 15 pessoas envolvidas no esquema, entre eles o ex-presidente do Postalis, Alexej Predtechensky, e o ex-diretor de investimentos do fundo, Adilson Florêncio da Costa, acusados de associação criminosa e crimes financeiros. A Justiça determinou a apreensão dos passaportes de dez envolvidos e estipulou fiança em valores superiores a R$ 4 milhões.
Dos 16 réus, sete já estavam detidos em prisão temporária desde o último dia 24. O ex-presidente do Postalis, Alexej Predtechensky, o ex-diretor Adilson Florencio, Márcio André Costa e Ronald Levinshohn tiveram a fiança estipulada em R$ 8,8 milhões. Já Paulo Cesar da Gama e Luiz Alfredo da Gama, sócios e fundadores da Universidade Gama Filho, administrada pelo grupo Galileo, tiveram a fiança estipulada em R$ 4,4 milhões.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) do Rio, os envolvidos teriam desviado cerca de R$ 90 milhões em recursos arrecadados nos fundos de pensão para recuperar o Grupo Galileo, administrador de duas universidades particulares no Estado. A oferta de emissão de títulos da dívida, em 2011, foi feita por uma sociedade entre Márcio André Costa, proprietário do Grupo e o empresário Ricardo Magro. O negócio teria levantado R$ 81 milhões pagos pelo fundo Postalis e R$ 23 milhões pagos pela Petros.
Na avaliação dos procuradores do caso, a aquisição dos títulos pelos fundos de pensão caracteriza gestão fraudulenta. "Fica evidente que havia, um concerto de ações entre Márcio André e Adilson Florêncio, no sentido de se destinar ao Grupo Galileo recursos do Postalis, pouco importando se o investimento era seguro ou não", afirma a denúncia, assinada pelos procuradores Márcio Barra Lima e Paulo Gomes.
Também foram denunciados pela gestão fraudulenta do Postalis, o ex-presidente do fundo, Alexej Predtechensky, o ex-diretor financeiro, Ricardo Azevedo, o ex-gerente de aplicações, José Carlos Rodrigues, e a gerente de ativos, Mônica Christina Caldeira. A investigação sobre gestão fraudulenta no Petros foi desmembrada do processo pela Juíza da 5ª Vara Federal do Rio, Adriana Alves dos Santos Cruz.
De acordo com os procuradores, o investimento não tinha sido aprovado no Comitê de Investimento da Petros, mas foi executado pela diretoria executiva. "Na época, saltava aos olhos a evidente impropriedade das garantias oferecidas pelo Grupo Galileo - os recebíveis do curso de medicina. Ademais, já havia divulgação na mídia dos graves problemas financeiros pelos quais passava a Gama Filho e isso sequer é mencionado na análise realizada na Petros ou na deliberação tomada pelos denunciados", afirma a denúncia.
Nos depoimentos já colhidos, os acusados indicam que o esquema era articulado por Márcio Costa, proprietário do Grupo Galileo. Ricardo Magro disse, em depoimento, que se desfez da sociedade em março de 2011, antes da operação de venda de títulos das dívidas. Um dos principais acionistas da Refinaria de Manguinhos, Magro tem relações próximas a políticos do PMDB, como o deputado afastado Eduardo Cunha, e do PT, com sociedade com Marcelo Sereno, chefe de gabinete do ex-ministro da casa civil, José Dirceu.
Os procuradores seguem investigando o destino final dos recursos - via transferências ao exterior, doações e contratação irregular de consultorias - e avaliam possíveis relações políticas entre os acusados. Foram encontradas agendas com contatos e informações sobre os negócios, além de documentos e indícios de encontros entre os envolvidos. Entre os documentos, há indícios de que o ex-diretor de investimentos da Postalis, Adilson Florêncio, tinha conhecimento sobre a delicada situação financeira das universidades.
A operação também pediu o bloqueio de bens de 46 envolvidos, no valor total de R$ 1,3 bilhão. O levantamento dos recursos bloqueados ainda não foi concluída, mas foram apreendidos mais de 71 veículos, entre carros de luxo BMW e Mercedes Benz, e três embarcações pertencentes aos acusados. Mesmo com a falência das universidades, os fundadores mantinham extenso patrimônio de imóveis e gastos com restaurantes de luxo em viagens no exterior.