Um dos maiores importadores de azeite do mundo, o Brasil vem conseguindo conquistar o mercado interno com a produção nacional. Pioneiros na fabricação da iguaria no país, os municípios da Serra da Mantiqueira – maioria em solo mineiro – devem ter safra recorde este ano e produzir a maior quantidade do óleo vegetal extravirgem da história.
A expectativa é colher 400 toneladas de azeitonas e entregar 40 mil litros de azeite, quase o dobro da safra passada, mas ainda assim uma pequena escala, o que impacta diretamente no preço. Comercializados geralmente em embalagens de 250 ml, os azeites mineiros custam a partir de R$ 40 e só são encontrados em empórios e lojas especializadas.
De acordo com o pesquisador Luiz Fernando de Oliveira da Silva, coordenador do Programa de Olivicultura da Epamig em Maria da Fé (Sul de Minas) – berço dessa atividade no Estado –, o aumento da produção deve ser gradativo porque tem relação direta com a maturidade da planta. O desenvolvimento de tecnologias também ajuda.
“Trabalhamos para solucionar problemas pontuais, criando mudas de melhor qualidade, variedades adaptadas às nossas condições climáticas e técnicas corretas de manejo da planta”, enfatiza o pesquisador da empresa governamental de pesquisa, apostando no aumento exponencial das próximas safras.
Diferencial
O foco dos produtores de azeite da Mantiqueira é a qualidade do produto. “A concorrência acontecerá não pela quantidade produzida, mas pela qualidade do produto feito aqui”, observa o pesquisador.
res dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), Carlos Diniz explica que o diferencial do azeite fabricado na região é o frescor.
A produção em menor escala garante um óleo mais jovem e, portanto, mais saboroso e rico em propriedades que acentuam o sabor, por exemplo. “Fazemos a extração de forma rápida e partimos para a comercialização em seguida. O mesmo não acontece com produtos importados. Essa é a vantagem em relação ao sabor e aos aromas”, detalha.
Sobra da produção vira cuidado natural com a pele
A produção de azeite na Mantiqueira tem impulsionado a fabricação de outros derivados do fruto. Em Maria da Fé, no Sul de Minas, os resíduos da indústria do óleo vegetal e as sementes de azeitona trituradas deram origem ao ganha-pão da farmacêutica Vânia Gonçalves, que viu no produto abundante na região um nicho de negócio.
Há cerca de três anos, ela criou a Saboaria Jardim Secreto, onde produz de forma artesanal sabonetes esfoliantes e hidratantes e aromatizadores de ambiente. Todo mês, a matéria-prima adquirida sem custos da Epamig dá origem a uma média de 50 sabonetes de 100 gramas, vendidos a R$ 8 cada unidade. A farmacêutica já planeja abrir uma loja. Saboaria Jardim Secreto/Divulgação
100% NATURAL – Em Maria da Fé, resíduos da fabricação de azeite e da trituração da semente da azeitona dão origem a sabonetes e aromatizadores de ambiente
“Na Europa, onde a produção de azeitonas é muito intensa, já se utiliza esses resíduos para fabricação de cosméticos. Além de antioxidante, o fruto é rico em vitaminas E e C, ajuda a clarear a pele e a estimula a renovação celular. Todos os insumos que uso são 100% naturais e não agridem o meio ambiente”, detalha Vânia, que está patenteando a fórmula.
No próximo dia 24 acontece o 12º Dia de Campo de Olivicultura, no Campo Experimental da Epamig em Maria da Fé. O evento reunirá pesquisadores, técnicos, olivicultores e empresários interessados no setor.
Luiz Fernando Oliveira/Divulgação
TOP DE LINHA - Cor esverdeada e frescor são características mais marcantes da safra da Mantiqueira
Além disso
A fartura do fruto da oliveira tem sido incremento e tanto na produção dos chocolates fabricados pela doceira Ana Lúcia Ribeiro Silva, sócia-proprietária da Chocolate Tentação, em Maria da Fé. Há 15 anos, ela produz artesanalmente barras de chocolate, ovos de Páscoa, bolos e doces. Há quatro, descobriu um ingrediente inusitado que tornaria as receitas diferentes de tudo o que já havia visto: o azeite.
O ingrediente é misturado ao cacau e dá origem a barras maciças, com sabor acentuado do óleo. “Fui convidada para participar de um festival gastronômico na cidade e tive que inventar alguma coisa para levar, já que meu prato era doce. Sabia do uso de óleo de canola para afinar o chocolate, então tive a ideia de substituí-lo pelo azeite”, conta, relembrando a origem da receita exótica. A invenção deu tão certo que ela recebe encomendas até de turistas.
As azeitonas, além de darem origem ao tradicional azeite, são matéria-prima usada para curar queijos e adubar bonsais da planta. O trabalho é realizado por Marcelo Bonifácio, proprietário da Fazenda Maria da Fé. Desde 2015, quando adquiriu a propriedade, ele fabrica o óleo extravirgem, usado também nos queijos, e utiliza o resíduo da produção: o bagaço da azeitona vira composto orgânico para adubação.