(Maurício Vieira)
O soldador Edimário dos Santos, de 30 anos, estava dormindo quando parte da casa em que vive com mais sete pessoas, na Vila São Paulo, divisa de BH com Contagem, desabou em dezembro do ano passado. O susto, no entanto, não foi suficiente para que a família deixasse o local e, agora, as chuvas que castigam a capital podem jogar barranco abaixo o que sobrou da moradia. O drama da família não é um exemplo isolado. A cidade tem 1.307 residências em áreas de risco alto ou muito alto, segundo o último dado da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). O número, apesar de ser de 2016, ainda é usado como referência pela Defesa Civil. No caso de Edimário, a estrutura comprometida do imóvel causa a impressão de que uma simples rajada de vento pode derrubar a construção. Há rachaduras no piso e nas paredes, por onde a água se infiltra com mais força a cada chuva. Há três anos morando no imóvel, o soldador vive o drama de não saber o que fazer para evitar um desastre. Ele alega que o aluguel social oferecido para a família, no valor de R$ 500, não é suficiente para a locação de uma casa que acomode a todos. Sem alternativa, eles temem o pior. “A gente não dorme. Toda vez que chove forte é essa angústia, porque quando desaba é muito rápido. Da última vez aconteceu em questão de segundos”. A poucos quilômetros dali, no bairro Jardim São José, a família da dona de casa Lidiane Lúcia vive um dilema parecido, mas que já dura 32 anos. O imóvel está erguido há centímetros de uma encosta que voltou a sofrer deslizamentos durante a madrugada de ontem. “Isso já aconteceu tantas vezes que já perdemos a conta. Eu morro de medo de ser engolida pela terra”. DestruiçãoAlém das vilas e favelas, a chuva também tem feito estragos em áreas regularizadas. Na madrugada de ontem, duas pessoas foram soterradas por um barranco entre os bairros São Cristóvão e Concórdia, na região Noroeste. Os feridos foram levados para uma unidade de saúde. Além disso, três casas às margens da avenida Antônio Carlos foram interditadas. O Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) informou que, ao constatar uma ocupação no trecho que administra no Anel Rodoviário notifica o invasor e solicita a desocupação da área. O órgão ressaltou, no entanto, que “não possui poder de polícia, o que significa que não pode exercer coerção sobre os invasores”. Em RiscoO número de pessoas em áreas de risco não é estimado, mas é maior do que a quantidade de moradias. “Nós levantamos quantas edificações estão em risco geológico. Mas em uma mesma estrutura pode morar mais de um núcleo familiar. Às vezes, elas têm até três pavimentos”, afirma a diretora de Áreas de Risco e Assistência Técnica da Urbel, Isabel Volponi. De setembro de 2017 a fevereiro de 2018, 30 famílias foram removidas preventivamente de áreas com potencial para deslizamento. Flávio Tavares Novos temporais reforçam o alerta em Belo HorizontePancadas de chuva acompanhadas de trovoadas e rajadas de ventos devem ocorrer pelo menos até segunda-feira, segundo a Defesa Civil de Belo Horizonte. A previsão acende o alerta para os riscos de deslizamento de encostas na cidade. “Quanto mais água de chuva acumulada no solo, mais favorável para deslizamentos, principalmente em locais inapropriados e construções inadequadas”, afirma o subsecretário de Proteção da Defesa Civil de Belo Horizonte, coronel Alexandre Lucas Alves. O órgão não tem dados específicos sobre as áreas de risco, mas o coronel garante que o número de notificações feitas está mais frequente nesta temporada de chuva do que na anterior. Dados gerais da Defesa Civil de BH indicam 247 atendimentos a casos em que há risco de avarias em residências, entre 1° de janeiro e 8 de março, em toda a cidade. No mesmo período de 2017, foram 132, alta de 87%. Os números incluem, por exemplo, desabamentos parciais de moradia e de telhado e risco de deslizamentos de encostas, pedras e vias públicas. Construções e soloOs deslizamentos em Belo Horizonte podem ser explicados por construções mal estruturadas e formação rochosa da cidade, segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape), Clémenceau Chiabi Saliba Júnior. Ele explica que o solo da metrópole é rico em filito, um tipo de rocha que, quando molhada, se torna mais propícia ao deslizamento. “As construções são feitas, em sua maioria, sem preocupação com estruturas auxiliares de contenção e drenagem”, acrescenta Clémenceau Chiabi. Leia mais:
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