Arnaldo Jabor escreveu certa vez que ele era um falso bom ator. Robin Williams seria histriônico demais para tocar o pathos com seus personagens. Não é uma afirmação que muita gente assinaria embaixo. O astro foi um dos mais premiados de sua geração. Além do Oscar de coadjuvante, que recebeu por Gênio Indomável, contabilizou dois Emmys, dois troféus do Actors Guild, cinco Grammys e seis Globos de Ouro.
Neto de um governador e senador do Mississippi, Robin ia seguir a tradição familiar na política, mas descobriu a interpretação e trocou o estudo das ciências políticas pela Juillard. Interpretou séries de TV e fez stand up comedy. Tornou-se famoso pela voz, que lhe permitia criar os mais variados personagens. Não por acaso, fez a dublagem de Aladdin e de Happy Feet. Apesar da vocação cômica, criou personagens dramáticos que marcaram época.
Havia nele uma qualidade singular. Essa facilidade com que ele conseguia ser o garoto crescido ou o adulto infantilizado, e também por ajudar a iluminar aspectos sombrios do comportamento humano. Insônia não foi seu único criminoso, mas ele recusou ser o personagem que terminou interpretado por Jim Carrey na série Batman. Talvez, numa certa época - anos 1990 - ele tenha exagerado nos papéis sentimentais, mas, além de ser um valor seguro de bilheterias, tornou-se um emblema do filme familiar. Ninguém se esquece dele vestindo-se de mulher para ficar perto dos filhos em Uma Babá Quase Perfeita.
É curioso (triste?) que vivesse em contradição, projetando na tela uma imagem diversa de seus problemas com drogas e álcool, na vida. Robin não foi só ator de TV e cinema. Fez teatro, e quem o viu como Estragon em Esperando Godot, de Samuel Beckett, jura que ele entendia perfeitamente a sutileza da criação minimalista do grande dramaturgo.
Era tão bom de imitação que devia ter mais talento do que a gente pensava para conseguir ser, eventualmente, tão contido.
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