Rotina de insegurança: servidores da PBH relatam terror e exigem proteção nos centros de saúde

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
25/05/2017 às 20:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:43

A insegurança tem se tornado presença constante nos centros de saúde da capital. Arrombamentos, furtos, assaltos à mão armada e até ameaças de morte a médicos são problemas relatados por profissionais que trabalham em unidades espalhadas por todas as regionais da cidade. Segundo dados do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de BH (Sindibel), já foram 33 ocorrências em 2017 – média de um caso a cada cinco dias.

Ontem, pelo menos dez unidades de saúde não abriram as portas em um protesto dos funcionários para sensibilizar a população e o prefeito Alexandre Kalil sobre o problema. Segundo vários profissionais, o registro de violência se tornou frequente depois que os porteiros foram retirados dos 152 centros de saúde da capital, no fim de 2016. 

Paula Nascimento de Moura)

“Para piorar, neste ano tiraram os guardas municipais que ficavam nos lugares mais violentos. Queremos a volta desses servidores ou, se não for possível, que a prefeitura contrate empresas de segurança para fazer esse serviço”, explicou a diretora de Saúde do Sindibel, Ângela de Assis. 

A situação chegou ao ponto de uma médica ter que ser afastada do trabalho depois do trauma de ser ameaçada com um revólver dentro do consultório no Centro de Saúde Padre Tiago, inaugurado há cerca de um ano no bairro São José, na região da Pampulha.

“Aconteceu em 17 de maio, quando um usuário da unidade se recusou a esperar atendimento e entrou no consultório com uma arma. Desde então, tenho taquicardia, sudorese e recebi o aconselhamento psiquiátrico para me afastar do trabalho. Não temos estrutura alguma para trabalhar naquele local”, relata a médica Paula Nascimento de Moura. 

Crise

O secretário municipal de saúde, Jackson Pinto, afirma que a decisão de designar a volta dos porteiros aos centros de saúde cabe única e exclusivamente ao prefeito Alexandre Kalil, que já está ciente do problema. Para Pinto, a operação demanda investimentos que estão além da capacidade financeira da administração municipal no momento.

“Se eu contratar porteiros, vou ter que demitir médicos. Nossa preocupação principal é que o paciente chegue ao centro de saúde e seja atendido. A questão de segurança é muito importante, mas não é responsabilidade nossa”, afirmou.

Apesar da reclamação dos funcionários da saúde, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) afirmou que “os guardas municipais são mantidos em 90 postos de saúde da cidade, durante todo o período de funcionamento, em dias alternados. Essa estratégia de atuação nas unidades foi adotada com base no estudo dos índices de ocorrências criminais da área em que cada equipamento está instalado e também por meio da indicação de prioridades por parte da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA)”. 

A PBH não se manifestou sobre a retirada dos porteiros desses locais.

o ápice

A sucessão de roubos e arrombamentos em unidades de saúde da capital tem levado funcionários de carreira da PBH a repensarem a continuidade no serviço público. É o caso de Lourdes Diana, auxiliar administrativo no Centro de Saúde São Francisco, localizado na Pampulha. 

Com 25 anos de carreira na prefeitura, ela alega que não suporta mais conviver com a violência, que se tornou algo rotineiro por lá. 

"A unidade foi inaugurada há mais ou menos um ano e, desde então, já foram registrados dez boletins de ocorrência. A única coisa que temos é um sistema de alarme de uma empresa que não aparece quando o dispositivo começa a tocar”, afirma. 

2.000 pessoas ficaram sem atendimento médico com o fechamento dos centros de saúde durante o protesto de ontem, segundo o Sindibel

Para Lourdes, a localização do centro de saúde próximo à favelas favorece a ocorrência de crimes. “Já cansamos de chegar pela manhã e encontrarmos as portas arrombadas. Já roubaram computadores, televisores, celulares. Agora estamos nessa situação dificílima”, lamenta a funcionária.

Levantamentos d a Guarda Municipal apontam que 64 furtos foram registrados de 1º de janeiro até ontem nos postos de saúde da capital. Um crescimento de 49% em relação ao mesmo período do ano passado.

De acordo com o órgão, as ameaças a funcionários caíram de 34 para 25 no mesmo período. A corporação afirma, ainda, que apenas um roubo foi registrado neste ano.

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