Roubo de cabos de cobre para lucrar R$ 20 põe no lixo 500 vacinas

Bruno Inácio
binacio@hojeemdia.com.br
30/07/2018 às 20:22.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:40
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Roubo de fios de cobre em um posto de saúde de Belo Horizonte pode deixar centenas de pessoas sem vacina. A ação dos ladrões impediu o fornecimento de energia elétrica na unidade do bairro São José, na região da Pampulha. Sem refrigeração, 500 frascos contra sarampo, poliomielite, gripe e meningite, entre outras doenças, tiveram que ser descartados.

O crime ocorreu no fim de semana, mas só foi descoberto ontem, quando os funcionários chegaram para trabalhar. O atendimento médico no centro foi restrito a urgências e emergências. Transtornos para um bairro inteiro em troca de R$ 20 – valor que a quantidade de fios levada renderia no mercado paralelo, segundo apurou a equipe de reportagem do Hoje em Dia. 

Cada vidro pode ter até quatro doses de uma mesma vacina, dependendo da enfermidade a ser prevenida. “Ainda estamos contabilizando as perdas. Mas um frasco não possui apenas uma dose. Para algumas ela é fracionada. Estamos falando então de milhares que perdemos”, conta a presidente da Comissão Local de Saúde do São José, Janaína Faustino, que também é funcionária do posto.

Sem o correto armazenamento na geladeira, o material perde a eficácia e pode trazer riscos aos usuários, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Até que o estoque seja reposto, os moradores terão que se dirigir a outros centros da região para se proteger contra as doenças. O prazo para a normalização do serviço não foi informado.

A psicopedagoga Andressa Rachid, de 42 anos, foi levar a filha Clara, de 2, para ser imunizada contra a pólio, mas voltou para a casa sem a imunização. “O problema não é ter que voltar depois, mas é saber o tanto de frasco jogado fora que podia estar garantindo a saúde de crianças”.

Consultas odontológicas, procedimentos agendados e exames também não foram realizados. Até o fim da tarde de ontem, apenas os atendimentos no setor de farmácia, curativos e casos “agudos”, conforme a unidade, eram feitos. “O posto Padre Tiago (no bairro Alípio de Melo) nem é tão longe, mas como vou me locomover até lá de cadeira de rodas sendo que moro aqui perto?”, disse a aposentada Almerinda Torres, de 76 anos, que estava com uma crise de asma.

Conforme o Hoje em Dia mostrou nas últimas semanas, doenças como a poliomielite e sarampo estão ameaçando novamente a população, que está com a cobertura vacinal abaixo do indicado em diversas cidades mineiras

Crime

O caso será investigado pela 4ª Delegacia da Polícia Civil da capital. Segundo a perícia, os criminosos estouraram o padrão de luz na área externa e arrombaram a caixa de energia, levando a fiação inclusive da parte interna do prédio.

O furto de fios de semáforos, postes e até de radares tem sido recorrente em BH. Segundo a Polícia Militar (PM), esse é um problema de difícil solução, uma vez que os bandidos conseguem revender o material com facilidade em ferros-velhos, que não são obrigados a garantir a procedência do cobre, conforme a legislação.

Questionada sobre a onda de ataques, a Polícia Civil informou que as delegacias de área são responsáveis por investigar os crimes. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) disse que a Guarda Municipal faz a segurança nos postos.

Técnicos da Cemig estiveram no posto de saúde junto com servidores da Gerência de Manutenção da PBH para recolocar os fios. A previsão era a de que o trabalho fosse finalizado ainda ontem, mas o atendimento só deve ser retomado de forma plena hoje, conforme funcionários.

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