(Divulgação)
Luiz Ruffato sempre mostrou, em suas obras, o gosto por histórias da gente simples do interior do país – especialmente da Zona da Mata mineira, onde nasceu. Uma gente normal que encara a labuta, os agouros, os maus amores, a má sorte, por vezes.
Após o imenso sucesso de “Eles Eram Muitos Cavalos” e da pentalogia “Inferno Provisório”, seu foco muda um pouco. No recém-lançado “Flores Artificiais” (Companhia das Letras), ele volta com seu estilo próprio de contar várias histórias, mas o ponto que reúne os personagens não é mais social ou geográfico.
A característica especial desta obra começa pela maneira com que foi concebida. Ruffato recebeu uma carta de Dório Finetto, um engenheiro e consultor do Banco Mundial, em que o senhor lhe pedia para ler seu livro. Solitário, Finetto começou a escrever sobre as pessoas interessantes que conheceu mundo afora após a recomendação de sua analista.
O texto do engenheiro é burocrático, mas Ruffato viu ali histórias bem interessantes. Combinaram que o escritor profissional enriqueceria as histórias e transformaria o livro “Viagens à Terra Alheia” em “Flores Artificiais”. O nome de
Finetto não aparece na capa do livro como Ruffato gostaria, mas o escritor faz questão de deixar claro ao leitor como nasceu a parceria.
Aqui estão pessoas que Finetto conheceu em países como Argentina, Uruguai, Cuba, Líbano, Timor Leste. Entremeado a histórias simples, estão dados sobre heranças de guerras e ditaduras. Questões sociais de hoje e outrora aparecem nas entrelinhas, exatamente como Ruffato faz sempre em seus trabalhos como autor e editor. Novamente, foco nas pessoas simples, com o diferencial de serem de diferentes partes do mundo.
Interessante também é a similaridade entre as histórias de Ruffato e Finetto. Ambos nasceram em famílias humildes da Zona da Mata – o primeiro em Cataguazes, o segundo em Rodeiro. Superaram uma sina de lida manual para se tornarem intelectuais bem-sucedidos. São observadores dos que estão em sua volta, com uma plena diferença: Ruffato descobriu cedo como a literatura pode ser transformadora.