(Flávio Tavares/Hoje em Dia)
Com a proposta de diversificar a matriz econômica do Estado valorizando as pequenas e médias empresas, a ex-professora do curso de Economia da UFMG, Dirlene Marques (Psol) afirma que, se for eleita ao Governo de Minas, espera regularizar o pagamento dos servidores do Estado no período de dois meses
A candidata pretende, ainda, discutir a descriminalização das drogas, sobretudo a maconha, como forma de combater, dentre outros problemas, a superlotação das cadeias do Estado.
Desde a semana passada, o Hoje em Dia realiza uma série de entrevistas com os candidatos ao Palácio da Liberdade, no estúdio da TV Promove. Nesta quinta-feira (27) será a vez de João Bastista Mares Guia (Rede).
O que a senhora propõe para zerar o rombo fiscal em Minas?
De fato a economia está vivendo uma grande crise que não é só econômica. É também, política, social, ética, ambiental. É uma crise geral. Cada Estado tem condições de intervir de alguma forma. A crise foi aprofundada ao longo dos anos à medida que a política adotada foi extremamente equivocada. Os recursos existentes são sempre voltados para financiar grandes empresas. No caso de Minas, as empresas de exportação de commodities. Não temos um processo de transformação dos produtos aqui. Elas só têm isenção fiscal para exportar o produto bruto. Portanto queremos fazer um grande acordo com outros governadores, em especial o do Pará, para extinguirmos a Lei Kandir. Mas enquanto isso, temos que fazer compensação financeira. O Estado ainda financia essas empresas através de juros subsidiados. O BDMG deve deslocar recurso para financiar outras empresas, como agricultura ecológica e familiar, além da proposta de utilização das terras devolutas para plantar produtos agroecológicos para manutenção das cidades. Nas cidades mineradoras, o problema é muito maior. Eles vivem com a corda no pescoço com medo da empresa sair de lá. Você tem que criar alternativas para isso.
Grande parte dessas medidas dependem de decisões federais. O financiamento de grandes empresas, como as mineradoras, também são feitos por bancos federais, como o BNDES. Então o que o governador poderá fazer para atuar nessa área?
As isenções fiscais do governo federal são da ordem de bilhões e podem ser revertidas. Temos também as dívidas que as grandes empresas não pagam e podemos cobrar. São com esses recursos que seria possível dar estímulo às outras produções. Essas reservas ajudam também no retorno de emprego e da renda.
Quem defende as isenções afirma que essas empresas são importantes porque geram empregos e quando vão embora levam isso para outras regiões...
Nosso programa muda essa lógica de que quem gera o emprego são as grandes empresas. Esses setores não geram a maior quantidade dos empregos. São nas pequenas empresas que estão o maior número de vagas porque elas usam do trabalho intensivo e não capital intensivo.
Qual a proposta da senhora para melhorar o ensino nas escolas públicas?
Nossa chapa é formada de três educadoras e um educador. A gente conhece bem o setor. Temos que levar em conta a discussão da valorização da categoria. Precisamos criar uma infraestrutura muito ampla pois não adianta nada se você não valoriza as pessoas que vão transmitir conhecimento. Isso vai refletir nas relações dentro da escolas. A própria violência é dada em função da desvalorização dos professores. Então temos que pensar a questão de forma mais integrada. O desenvolvimento da matemática e do português vai se dar a medida que você tem uma integração da criança com os professores, criando uma relação de respeito e conhecimento. Há uma rotatividade nos quadros do professorado, pelo pouco estímulo. Antes de qualquer coisa deve-se colocar em dia os salários. Queremos retirar de todos os outros pagamentos para colocar em dia o salário do funcionalismo público. Pessoas aposentadas que vivem com salário de R$ 1.500,00 ou R$ 1.800,00 atrasam toda vida se você atrasa o salário delas. Além disso, precisamos garantir o piso nacional. Buscar adequar o piso mínimo ao piso máximo porque há discrepâncias fantásticas. Claro que isso é muito difícil, mas esse é nosso propósito, mudar de visão a forma de trabalhar o Estado.
Em quanto tempo seria possível colocar os salários em dia?
Estamos trabalhando com dois meses. Os outros candidatos não tem essa mesma visão. Todos eles acham que vão resolver o problema da crise reduzindo o tamanho do Estado. De fato, a gente acha que o Estado é muito grande e muito forte, mas apenas para atender os interesses do capital. Para nós, temos que ter um Estado forte para atender o social. São áreas que trabalham com pessoas.
Quais seriam as soluções práticas para mudar a situação carcerária que temos hoje, de superlotação e déficit de agentes penitenciários no Estado?
De imediato, temos que trabalhar com o tamanho da população carcerária. Hoje nós temos pelo menos 30% que estão ali sem sequer terem sido julgados. Então se você não tivesse essas pessoas, haveria mais condições de transformar esse lugares em locais de efetiva recuperação, o que não é o caso. O Brasil não tem preocupação de recuperação. É só um Estado punitivo. Quem hoje está sendo preso ou morto são os jovens negros e pobres. É preciso um trabalho para que a saída para eles não seja o tráfico. Assim é possível criar formas concretas de recuperação nos presídios.
Essa proposta demandaria a participação da Justiça. Como seria esse trabalho?
Nós estamos propondo justamente esse trabalho junto ao Judiciário e as diferentes políticas para fazer esse processo. Não pode ser o Executivo sozinho. Tudo é difícil, mas a gente quer enfrentar o problema sabendo disso. As pessoas que vão votar em nós sabem que vamos fazer esse enfrentamento.
Temos estatísticas que mostram mais de 360 casos de agressões a mulheres por dia. Como enfrentar esse tipo de violência?
O Brasil inteiro está organizando para sábado a manifestação #Elenão. A manifestação vai mostrar esse quadro. O Bolsonaro é o centro porque ele tem expressado publicamente o ódio contra as mulheres, da forma como elas são tratadas de um modo geral. O movimento feminista tem discutido muito isso. Há milhões de mulheres que já se conscientizaram. Mas há um outro lado onde há mais resistência no machismo. As escolas são fundamentais para atuar sobre isso. Assim como o machismo, o feminismo também se constrói desde cedo.
O governo da senhora teria mais mulheres?
Isso é um princípio nosso. Teremos no mínimo o que nós representamos na sociedade: 52%. Essa deverá ser a distribuição dos cargos. Hoje, de nove candidatos, temos só eu de mulher. Isso não é um absurdo? Se tem uma mulher, com 71 anos, que depois de viver uma vida inteira em diversas atividades, que ousadia é essa chegar agora e se colocar nessa disputa? Acho que isso é importante para as mulheres se enxergarem na sociedade. Tem que se construir formas efetivas para dar sustentação a milhões de mulheres no Brasil que ainda não tem autonomia para enfrentar o machismo dentro de casa. Há lei, como a Maria da Penha, que já preveem tudo isso, mas não são executadas. Agora, precisamos também de algo que, de imediato, é fundamental, como casas-abrigo que possam dar apoio e sustentação psicológica para que elas não se submetam à violência doméstica.
Pelas pesquisas, a senhora não iria para o segundo turno. Se isso se confirmar, a senhora pretende dar apoio ao Anastasia ou ao Pimentel?
Por que estão colocados esses dois? Porque são os que tiveram mais visibilidade. Toda reforma eleitoral é para viabilizar que só os conhecidos continuem conhecidos. Não há espaço para o novo. Nossa proposta também não é fácil de ser compreendida, porque ela propõe uma ruptura com a lógica histórica que as pessoas acham que é natural. Mas nosso partido nunca teve tanta visibilidade e aceitação como agora. Pode até não refletir numa ida para o segundo turno, mas teremos uma bancada muito expressiva. E aí vamos discutir um possível apoio só depois do primeiro turno.
A senhora é a favor de liberar o uso de drogas?
Se você for ver a menina detida, são todos eles presos porque são usuários de maconha ou estão servindo ao tráfico. Eles vão sendo envolvidos nesse sistema. Então, diante disso, nós achamos que temos que descriminalizar o uso dessa droga porque já temos uma série de outras drogas usadas fartamente e liberadas, como o álcool, o cigarro, etc. Se você tem essa discussão como saúde pública você pode também evitar que essas pessoas se tornem viciadas. Temos um indicador que o jovem de classe média faz o mesmo tipo de uso mas não sofre a mesma punição. Além disso, ainda há o uso farmacêutico. Há pessoas que tem que importar essas substâncias. Então não tem lógica a manutenção de uma proibição e punição do uso dessas drogas.
Como o Psol de Minas vê a eleição presidencial?
A manifestação #Elenão mostra como o país vê esse candidato. A rejeição dele é enorme na sociedade. Esse candidato não representa o povo brasileiro. Ele reflete uma desesperança em relação a política. É uma lógica que foi construída ao longo dos anos, do toma lá dá cá. É claro que nesse processo, surgem as alternativas mais simplificadas. As mulheres voltarem para dentro de casa, os negros voltarem pra senzala. É uma forma de retroagir para poder manter aquela segurança existente. Isso também cria essa relação muito intensa de ódio. Nunca vi isso e olha que já vivi a ditadura. Acho que agora é um instante de fazermos esse enfrentamento e esse candidato é completamente inaceitável. Além disso, ele tem um princípio econômico de privatização de todo Estado.
Por que o eleitor deveria votar na senhora?
A política não é isso que população está vendo, mas sim um processo onde a gente pode trabalhar o coletivo, o social, a solidariedade. O Psol representa isso e nós acreditamos essas relações podem se transformar. É a única chapa que está apresentando mulheres em seu cargo majoritário.