(Paulo Leonardo - 24/8/2007)
Tiradentes é uma das cidades mais importantes de Minas Gerais. Há 16 anos, o município era apenas um destino da lista de cidades históricas, mas acabou se tornando uma das principais opções de quem procura um roteiro gastronômico. Com cerca de 20 estalagens e15 restaurantes de comida exclusivamente mineira em 1998, hoje, Tiradentes tem disponíveis 143 pousadas e oferece diversificados sabores em seus mais de 50 restaurantes com cozinhas de vários países Os planos para 2015 mantêm o caráter original da cidadela. Estrada do sabor, horta orgânica comunitária e museu da gastronomia são algumas das metas para o ano. Os organizadores do Festival Cultura e Gastronomia e a prefeitura pretendem inscrever Tiradentes para concorrer ao título de Cidade Criativa da Unesco, na categoria Gastronomia. “Os festivais de Tiradentes foram fundamentais para colocar a cidade em evidência. Especificamente o de gastronomia que trouxe um público diferenciado e com alto poder aquisitivo”, afirmou Ralph Justino, o atual prefeito do município. Na época, como secretário de Turismo e Cultura de Tiradentes, ele foi o idealizador e criador desses festivais. Apesar do patrimônio da cidade, Tiradentes não tinha tanta visibilidade como Ouro Preto, Diamantina ou São João del Rei. Por isso, foi preciso buscar alternativas atrativas. “Foi pensando em um desenvolvimento turístico para dar mais movimento e mudar o perfil de Tiradentes que surgiram as primeiras ideias para os festivais”, contou o prefeito. Cidade estrelada A cidade ocupa hoje o quinto lugar em número de estrelas no Guia 4 Rodas, com apenas sete mil habitantes. Entre a lista dos melhores restaurantes do país, a cidade aparece com dois estabelecimentos. “É a primeira cidade do interior a estar à frente das capitais brasileiras e nenhuma outra no Brasil tem dois restaurantes na lista”, contou Rodrigo Ferraz, atual diretor-geral do Festival Cultura e Gastronomia. O Produto Interno Bruto (PIB) de Tiradentes cresceu 300% nos últimos dez anos, principalmente pela força do setor gastronômico junto com as pousadas. “Isso mostra a importância da gastronomia e o que ela pode fazer por uma cidade”, conclui Ferraz. Os bastidores da primeira edição: improvisando e acertando A ousadia de Ralph Justino e o esforço do Club Gourmet e Senac, parceiros que ajudaram a colocar em prática o primeiro festival de gastronomia de Tiradentes, foram fundamentais para inserir a cidade no calendário de Minas Gerais. A inexperiência para desenvolver um evento desse porte e a falta de estrutura, renderam várias histórias, mas não impediram o sucesso e a boa repercussão do festival. “Fui empresário e tinha experiência em eventos. Pensei que seria simples, mas não foi. Eu não tinha ideia do tamanho da estrutura que seria necessária para fazer os pratos. Não tínhamos locais e nem cozinhas equipadas para os chefs”, contou Ralph Justino que chegou a comparar o evento a uma gincana. Improvisando O prefeito lembra que na época, Ivo Faria, do Vecchio Sogno, fez o primeiro almoço na pousada Mãe D’água. A estalagem tinha acabado de construir uma cozinha e não tinha piso e nem gás instalados ainda. “A sorte é que Ivo foi preparado e levou muito material dele. Apesar do atraso e de termos que pedir materiais emprestados a alguns vizinhos, foi um grande sucesso”, completou Ralph. O primeiro prato servido no festival foi um ossobuco de cordeiro. O premiado chef conta que “tudo foi muito bem pensado, mas na hora de colocar em prática, faltou dinheiro, equipamento, espaço. Foi um tumulto que deu certo”, avalia Ivo Faria. Ronan Horta, nosso chef gourmet da matéria de capa deste Caderno, iria assumir o Club Gourmet no ano seguinte. Ele também se recorda daquela primeira edição. “Tivemos bastante dificuldade pela falta de material e não tínhamos ideia de que proporção iria tomar, mas foi uma ideia genial, com visibilidade no mundo inteiro. Tiradentes ficou com um charme intimista da qualificação, de elementos sofisticados”, resumiu.