Saúde

Automedicação pode agravar doenças e até desencadear derrame e infarto

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
Publicado em 18/04/2022 às 07:00.

Quase todo mundo já tomou remédio sem prescrição após uma dor de cabeça ou febre. E quem nunca pediu a opinião de um amigo sobre qual medicamento consumir em determinadas situações? A automedicação se tornou um grave problema de saúde pública para a Organização Mundial da Saúde (OMS), que estima que metade de todos os pacientes no mundo utilizam medicamentos de forma incorreta e sem receita médica.

Vista como promessa de alívio rápido de alguns sintomas, a utilização de medicamentos de forma errada pode agravar várias doenças, principalmente cardiopatias. De acordo com o DataSUS, a insuficiência cardíaca é uma das principais causas de internações no Brasil: somente em 2018, 200 mil pessoas foram mantidas em hospitais por este motivo, e houve mais de 22 mil mortes.

Quem já faz uso de medicação contra males do coração precisa ficar ainda mais atento, segundo o cardiologista Leonardo Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
“Alguns remédios podem causar o descontrole da pressão arterial, o que é um fator de risco importante para um acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto, e são as doenças cardiovasculares as que mais matam no Brasil”, explica o médico.

Um problema comum com a chegada do outono, e que ocasiona mais casos de automedicação, é o aumento de alergias e de sintomas gripais. A ingestão de antigripais sem acompanhamento médico por pacientes idosos, hipertensos ou portadores de cardiopatias pode agravar as doenças do coração.

“Os remédios antigripais podem elevar a pressão arterial e ocasionar doenças como insuficiência cardíaca, insuficiência coronariana e miocardite”, alerta.

Descongestionantes
É comum que os descongestionantes tenham na fórmula elementos que podem comprometer a saúde cardíaca. As fórmulas nasais, por exemplo, contêm a substância fenilefrina e podem ser fatais.

“O uso indiscriminado de descongestionantes nasais também pode propiciar aumento da pressão arterial, o que é risco certo para derrames e infartos, além do provável aparecimento ou agravamento de arritmias, inclusive as consideradas graves e que ocasionam a morte”. 

O médico ainda alerta: mesmo as pessoas que não têm problemas cardíacos devem evitar o uso contínuo de descongestionante nasal sem prescrição médica, para não desenvolver um problema futuro. 

“Caso a pessoa apresente sintomas gripais, o ideal é que fale com um médico de confiança para receber orientação”, ressalta.

Encontrados com facilidade nas drogarias e até em supermercados e vendidos sem necessidade e apresentação de receita, anti-inflamatórios também são grandes vilões e podem colocar o coração em risco

Anti-inflamatórios
O cardiologista faz uma advertência especial sobre o uso indiscriminado de anti-inflamatórios. Segundo ele, são vastos os estudos que apontam que os medicamentos utilizados para combater dores e inflamações podem colocar em risco a saúde do coração. Entre os mais comuns estão o ibuprofeno, o diclofenaco sódico e a nimesulida, todos vendidos sem receita e facilmente encontrados em drogarias e até em supermercados.

“Se você tiver doença no coração ou nos vasos sanguíneos (também chamada de doença cardiovascular, incluindo pressão arterial alta não controlada, insuficiência cardíaca congestiva, doença isquêmica cardíaca estabelecida, ou doença arterial periférica), o tratamento com esses remédios geralmente não é recomendado”, explica.

Para reforçar o alerta, o médico relata a história de uma paciente que ao tomar um anti-inflamatório para aliviar dores no joelho teve uma insuficiência renal grave. 

“A evolução para este quadro foi muito rápida. Ela tomou o anti-inflamatório por apenas três dias, o que foi suficiente para que, em menos de uma semana, estivesse com uma falência renal grave. Ainda bem que no caso dessa paciente estamos conseguindo reverter o quadro, mas nem sempre isso é possível”.

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