Casos de intoxicação por metanol batem recorde em São Paulo e oftalmologista explica os riscos à visão e à vida
O número de intoxicações por bebida adulterada registradas em setembro pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATOX) de Campinas bateu recorde. Foram somados nove casos de intoxicação, com dois deles resultando em cegueira no estado de São Paulo, além de mais dez pacientes sob investigação até o dia 25 deste mês. Especialistas alertam para o risco do consumo de bebidas contaminadas por metanol, podendo causar cegueira e até levar à morte.
De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier de Campinas, quando o metanol entra na corrente sanguínea, é transformado em ácido fórmico, uma substância altamente tóxica que diminui a oxigenação das células.
O especialista explica que a toxidade somada à falta de oxigênio atacam o nervo óptico, desencadeando a neurite óptica. Caso a doença não receba o tratamento adequado durante a fase inicial ou aguda, ela pode causar a perda irrecuperável da visão. Além do risco à visão, a intoxicação sistêmica causa sérios danos ao fígado, rim, coração, pâncreas e até alterações na camada externa do cérebro, podendo levar ao óbito.
O especialista diz que os sinais de alerta da intoxicação por metanol sempre indicam uma emergência médica, mas geralmente só surgem entre 12 e 24 horas após o consumo. Isso acontece porque o álcool etílico presente nas bebidas torna o metabolismo do metanol mais lento.
Os primeiros sintomas nos olhos são: visão turva, fotofobia e dor retrobulbar ou ao movimentar os olhos. Os sintomas sistêmicos mais frequentes incluem náusea, forte dor de cabeça, dor abdominal, vômitos e alteração da consciência.
As primeiras 48 horas são cruciais para salvar a visão e a vida após uma intoxicação por metanol. Diante da suspeita de ingestão de álcool adulterado, Queiroz Neto recomenda que a pessoa seja encaminhada a uma triagem no CIATOX para confirmar a acidose metabólica grave, que requer hemodiálise para eliminar o metanol da corrente sanguínea.
Outra terapia para casos menos graves de acidose é o fomepizol (também conhecido como 4-metilpirazol), um antídoto ao metanol. Para o inchaço causado pelo acúmulo de ácido fórmico no nervo óptico, o especialista indica o uso de corticosteroides para eliminar a inflamação.
Para prevenir a intoxicação por bebida adulterada, o especialista orienta sempre observar na garrafa o registro ANVISA, o lacre de segurança e o selo fiscal.