Além da perda de peso, operação traz ganho na saúde mental e pode levar à remissão de doenças, mas só deve ser feita quando os outros métodos contra a obesidade não tiverem dado resultado satisfatório
Novo Atlas Mundial da Obesidade 2024 mostra que o número de adultos vivendo com obesidade pode saltar de 810 milhões, em 2020, para 1,53 bilhão, em 2035 (Pixabay/Divulgação)
Se bem indicada, a cirurgia bariátrica traz ganhos que vão além do manequim enxuto. Uso de técnicas cada vez mais avançadas e menos invasivas impacta positivamente na saúde mental do paciente, e estudos apontam que pode levar à remissão de doenças associadas à obesidade, como diabetes tipo 2, hipertensão e apneia do sono.
O quadro faz com que o recurso tenda a ser cada vez mais utilizado, sobretudo diante do aumento da população obesa. Dados do Novo Atlas Mundial da Obesidade 2024, divulgado pela Federação Mundial de Obesidade (WOF), destacam que o número de adultos vivendo com obesidade pode saltar de 810 milhões, em 2020, para 1,53 bilhão, em 2035.
Os tratamentos da obesidade, geralmente, são farmacológicos e possuem uma abordagem terapêutica individualizada. Essa conduta inicia-se na prevenção secundária para impedir a progressão da doença para um estágio mais grave e prevenir complicações. Entretanto, em alguns casos, intervenções mais invasivas podem ser necessárias, como a cirurgia bariátrica.
A bariátrica é um procedimento indicado quando outros métodos de perda de peso, como dietas, exercícios e o tratamento farmacológico não trouxeram resultados satisfatórios. Para que a cirurgia seja recomendada, dois fatores devem ser criteriosamente avaliados: Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40; ou IMC acima de 35, associado a comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono e outras condições relacionadas à obesidade. Todos os protocolos de indicação e técnica são baseados em premissas científicas.
O tratamento é multidisciplinar - envolve cirurgiões, endocrinologistas, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas, da preparação pré-operatória até o acompanhamento pós-cirúrgico - e a cirurgia bariátrica tem se consolidado como uma opção essencial nos casos de obesidade sem resposta ao tratamento clínico.
“A evolução tecnológica, aliada à capacitação contínua da equipe, garante que a recuperação seja mais rápida. Os grampeadores utilizados são extremamente seguros e permitem que o paciente passe da dieta líquida para a normal em até 21 dias”, explica.
O médico destaca que a cirurgia transforma a vida das pessoas tanto no aspecto físico quanto mental. “Menos de 10% dos casos têm recidiva, desde que sejam bem operados e os pacientes façam o acompanhamento adequado. A obesidade precisa ser cuidada e tratada ao longo da vida”, diz.
Depois de dietas, reeducação alimentar, exercícios físicos e intervenção farmacológica, a cirurgia bariátrica foi recomendada a Raianny Caroline Silva, de Contagem, pela equipe médica de cirurgia bariátrica da Rede Mater Dei.
Ela chegou a pesar 93 quilos, afetando a saúde tanto física quanto mental. “Eu não nasci gordinha e não era uma adolescente gorda. Entrei em depressão e por uns três anos sofri muito com a minha condição. Estava com diabetes, perda de sono, pressão alta e gordura no fígado. O processo para realização do procedimento exige dedicação, disciplina e mudanças de hábito, mas todo o esforço valeu a pena. Há 8 meses minha vida mudou. Hoje tenho disciplina, aprendi a correr e voltei a ser uma mulher cheia de energia e brilho. Chegar aos 30 anos com saúde foi a minha melhor conquista”, conta.
A cirurgia bariátrica também colabora na melhoria da qualidade de vida dos pacientes– que se sentem mais dispostos, com maior mobilidade e autoestima, além de terem uma redução significativa no risco de doenças cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto.
Considerada uma doença crônica, a obesidade é causada por fatores biológicos, históricos, ecológicos, econômicos, sociais, culturais e políticos. Por esse motivo, instituiu-se no Brasil o Dia Mundial de Combate à Obesidade (4 de março) - data para enfatizar a importância das campanhas e de políticas públicas que promovam a saúde e o bem-estar, combatendo uma das maiores epidemias do século XXI.
De acordo com o médico Marcus Martins, a sociedade precisa ser mais bem orientada e o poder público deve propor novas estratégias para enfrentar essa epidemia: “a taxa mundial de obesidade infantil é 5,6%, ou seja, as crianças brasileiras são três vezes mais obesas do que no resto do mundo. Tanto nas crianças quanto nos adultos, observamos uma epidemia de má alimentação e isso é gravíssimo”.
Para prevenir e controlar a obesidade, é imprescindível avançar com a educação nutricional dos brasileiros, aumentando o acesso a alimentos nutritivos, incentivando a prática de atividades físicas, regulando a comercialização de alimentos ultraprocessados e criando campanhas que reforcem que a obesidade é uma doença crônica que exige tratamento contínuo.
A obesidade compromete os rins, o fígado, levando à cirrose a longo prazo, além de ocasionar a hipertensão, diabetes e insuficiência renal. Quando o assunto é saúde mental, também é uma grande vilã: “os casos de depressão, cada vez mais comuns, fazem com que as pessoas se enclausurem em casa e isso vira um ciclo vicioso. O único prazer que elas passam a ter é o de comer, que somado ao baixo gasto energético, colabora para o aumento de peso e de doenças”, garante Marcus Martins.
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