Um dia depois de o comandante do 23º Batalhão da Polícia Militar (BPM) do Rio, tenente-coronel Marcus Amaral, ter dito que serão promovidas "ações de inteligência" nos ônibus que passarem no domingo, 19, pelo Leblon, na zona sul da capital fluminense, incluindo revistas em passageiros considerados "suspeitos" e que façam "baderna", a Secretaria Estadual de Segurança Pública desautorizou nesta quinta-feira, 16, a ação preventiva anunciada por conta do "rolezinho" previsto para ocorrer no Shopping Leblon. Em nota, a secretaria afirmou que "não há determinação para abordagens nas ruas e coletivos por conta do evento intitulado `rolezinho'".
De acordo com a pasta, "as revistas feitas rotineiramente na Operação Verão são realizadas a pedido de transeuntes, passageiros ou demanda ao serviço 190". A nota reitera que a polícia só deve ser acionada "se houver algum tipo de vandalismo". No dia anterior ao pronunciamento de Amaral, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, havia afirmado que não haverá ação preventiva. "Em primeiro lugar, 'rolezinho' não é crime. É um fato que se dá dentro de uma instituição privada. Não vamos tomar nenhuma atitude em relação a isso. Vamos ficar somente atentos e, se a polícia for demandada, vai atuar", afirmou. "Não consiste em crime nenhum, não vamos tomar nenhuma atitude preventiva nesse sentido".
O "rolezinho" no Shopping Leblon está programado para as 16h20 de domingo e mais de 8.500 pessoas já confirmaram presença pela internet. No sábado, 18, ocorrerão pelo menos dois outros eventos semelhantes no Estado, em shoppings da Ilha do Governador, na zona norte, e de Niterói, no Grande Rio.
Mamonas
Segundo o Coletivo Ilha do Governador, que organiza o evento na ilha, são esperadas mais de 200 pessoas (350 haviam confirmado presença virtualmente, até esta quinta-feira) e os participantes se reunirão na frente do shopping para decidir detalhes do evento. Eles serão orientados a ingressar ouvindo, pelo telefone celular, a música "Chopis Centis", do grupo Mamonas Assassinas, cuja letra diz "Eu di um beijo nela/E chamei pra passear/A gente fomos no shopping/ Pra mó de a gente lanchar/Comi uns bichos estranhos/Com um tal de gergelim/Até que tava gostoso/Mas eu prefiro aipim".
Um dos organizadores, que integra o Coletivo Ilha, que não quis se identificar com medo de represálias, afirmou que as pessoas não devem levar faixas ou cartazes e que a ideia é percorrer os corredores do shopping sem causar tumulto. O ato foi convocado "em apoio à galera de São Paulo (alvo de repressão durante evento semelhante na semana passada), contra toda forma de opressão e discriminação aos pobres e negros, em especial contra a brutal e covarde ação diária da Polícia Militar no Brasil, seja nos shoppings, nas praias ou nas periferias", como descreve o coletivo.
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