Os números são recordes e mostram que a vida do cidadão brasileiro não está nada fácil. A quantidade de famílias endividadas é a maior dos últimos 12 anos. O segundo semestre começou com 78% dos grupos familiares nessa estatística, sendo que 29% tinham algum valor em atraso, aponta Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), referente a julho, e divulgada nesta terça-feira (9) pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).
A situação está difícil, mas pode piorar, avisam especialistas. A razão são as altas frequentes na Taxa Selic, que serve como indexador em vários tipos de serviços financeiros e bancários, como empréstimos.
O economista Paulo Casaca, professor do Ibmec, lembra que a Selic vem quebrando recordes e alcançou 13,75% na última reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, realizada na quarta-feira (3). Foi a 12ª alta consecutiva da taxa.
Hoje, a principal âncora no bolso dos brasileiros é o cartão de crédito. De acordo com a CNC, 85,3% das famílias têm dívidas nesta modalidade. A taxa média cobrada pelo maiores bancos brasileiro no rotativo do cartão de crédito é hoje de 367,61% ao ano. Isso significa que uma dívida inicial de R$ 1.000 pode terminar o ano acima de R$ 4.600 e a tendência é de esse custo subir à medida em que a Selic sobe.
O aumento é mais que uma pedra no caminho de quem precisa de financiamento; chega a ser um verdadeiro abismo, capaz de engolir o orçamento até das famílias mais bem planejadas, avaliam especialistas.
De acordo com o economista Paulo Casaca, quando a Selic sobe, arrasta todos os serviços financeiros juntos e não há muito como fugir. “A alternativa é evitar pegar empréstimos. Quem precisa pegar empréstimos, vai pagar mais caro. Não tem alternativa”, afirma.
Taxas de juros
Situação que é ainda mais grave para quem precisa fugir dos empréstimos e quer renegociar taxas de juros, mas que, com Selic maior, dificilmente conseguirão taxas melhores. Para Paulo Casaca, a alternativa é pesquisar.
“Algumas categorias, como servidores públicos, podem ter acesso a algumas modalidades com juros mais baixos. Mas para a maioria é pesquisar nos bancos e buscar alternativas e juros menores”, sugeriu.
Orçamento comprometido
Uma situação bem conhecida da administradora de empresas Fernanda Silva, moradora de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Ela diz que tem vários tipos de empréstimos, “do Fies ao financiamento imobiliário”, e diz que o dinheiro falta no fim do mês.
“Hoje gasto aproximadamente 40% do orçamento com os financiamentos. Quando contratei, tinha uma renda maior. Hoje é difícil fugir”, afirmou.
Na opinião da CNC, a alta no endividamento, após alguns registros de queda, mostra que as medidas adotadas pelo governo precisam ser pensadas para o longo prazo.
“A alta dos indicadores de inadimplência indica que as medidas extraordinárias de suporte à renda, como os saques extras do FGTS e a antecipação do 13º salário aos beneficiários do INSS, aparentemente tiveram efeito momentâneo”, analisa o presidente da Confeeração, José Roberto Tadros.