Ser ou não ser mãe? Os desafios da maternidade nos dias atuais

Ser bonita, elegante, inteligente, bem-sucedida, companheira... são muitas as cobranças sobre as mulheres. Porém, uma das mais latentes envolve a maternidade. "Somos cobradas como mãe, esposa, dona de casa. É preciso aprender a lidar com tudo isso ao mesmo tempo", afirma a assessora do judiciário, Jacqueline Castelo Branco, 33 anos, mãe de Laura e Daniel, de 7 e 4 anos, respectivamente.

A mulher revela que essa relação materna é cheia de alegria, mas também de culpa, quando algo dá errado. Dedicando pelo menos seis horas para as crianças diariamente, ela diz que a experiência da gestação foi transformadora.

"Ser mãe é a maior felicidade da minha vida. Hoje eu não me enxergo mais sem meus filhos. A gente se torna uma pessoa mais sensível a tudo que acontece no mundo", comenta.

Pesquisa

Jacqueline participou de uma pesquisa de mestrado, juntamente com outras cinco mulheres, para identificar as "faces da mãe contemporânea". Coordenado pela psicóloga e escritora Renata Feldman, mestre em intervenções clínicas e psicossociais, o estudo aponta algumas questões que envolvem a maternidade.

De acordo com a pesquisadora, essa experiência é vivida com muita preocupação por boa parte das mulheres. Dentre os pontos realçados pelas entrevistadas, estão culpa, dedicação, esgotamento, transformações, conflitos e ambivalências.

"A sociedade prega uma mãe heroína. Mas a mulher se esbarra na questão de ser de carne e osso", indica Feldman. Ela completa que a progenitora precisa de um verdadeiro malabarismo para desempenhar todos os papeis que lhes são destinados.

Transformação e angústia

O efeito transformador que a maternidade tem sobre a mulher, citado por Jacqueline, é confirmado pela psicóloga. Ela afirma que as participantes do estudo comprovaram mudanças significativas no comportamento a partir da gestação.

Porém, ao mesmo tempo que essa situação representa felicidade, é também a coisa mais difícil que há. É uma explosão de sentimentos, algo mágico - revelaram as mães para a especialista. "O filho se torna uma extensão do próprio corpo da mulher e isso é um desafio", pontua.

Dentre os efeitos da experiência, há uma influência no relacionamento com o parceiro, chegando a interferir no casamento. "O matrimônio pode se tornar frágil com o nascimento da criança, pois a mulher tem que se desdobrar para dividir a atenção entre o marido e o filho".

"Não quero filho"

Enquanto algumas mulheres preservam a tradição da maternidade, outras já reconhecem que não querem ser mães. Porém, isso ainda é visto pela sociedade com certo estranhamento, afirma a pesquisadora. "Elas querem cuidar da própria vida, ter um tempo para esportes, por exemplo. Aquela que decide não viver a experiência causa um choque na sociedade".

De acordo com Renata Feldman, basta casar que já vem a cobrança: e o neném, quando vem? "É como se a menina já nascesse com o script pronto para ser mãe um dia". Essa decisão requer tempo, mas não pode demorar, por envolver a capacidade de reprodução feminina, reduzida com a idade.

Ser mãe na história

O simbolismo sobre a mãe é algo que mudou com o passar dos anos, explica a psicóloga. Ela toma como exemplo a Europa antiga, quando a progenitora entregava a criança para uma ama de leite cuidar.

No Brasil Colônia, um reflexo dessa cultura europeia representou muitos problemas na relação envolvendo uma segunda pessoa no tratamento com o filho. As amas, às vezes, não tinham o mesmo cuidado com os "pequenos".

Outra mudança que pode ser percebida se refere ao número de filhos. Há alguns anos, era normal o casal ter até 20 filhos. Hoje, muitos optam por ter apenas um. "Atualmente, também há as questões que envolvem arranjos homoafetivos, quando duas mulheres decidem ser mães e por meio da reprodução assistida", indica a pesquisadora.

Por fim, uma das transformações de destaque diz respeito à era digital. "Os bebês já nascem no Facebook, com a divulgação de imagens durante o crescimento. Além disso, os pais podem acompanhar a rotina dos filhos, mesmo a distância, pela webcam", finaliza. http://www.hojeemdia.com.br/especiais/dia-das-m%C3%A3es