Série da Amazon retrata a dor dos pais ao perder os filhos para o vício

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
30/05/2021 às 08:56.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:03
 (AMAZON/DIVULGAÇÃO)

(AMAZON/DIVULGAÇÃO)

“Eu costumo dizer que não procuro histórias. São elas que me procuram”, registra Breno Silveira. No caso da série “Dom”, com lançamento nesta sexta-feira na Amazon Prime Video, esta busca pelo diretor demorou mais de dez anos.

“Num primeiro momento, quando o Victor Dantas me procurou há 12 anos, eu fiquei com medo da história, por ser muito pesada e por sabermos que tem um final trágico. Quase recusei”, lembra Silveira, ao falar do primeiro contato de um pai (Victor) que queria contar a verdadeira história do filho, chefe de uma violenta quadrilha no Rio.

“Aos poucos, fui conhecendo melhor o Victor e entendendo todas as camadas da história. Era um pai querendo dizer que o filho dele não era a capa daquele jornal sangrento. Não era um criminoso bárbaro”, registra Silveira, que não se importou em produzir mais uma obra com o tráfico de drogas como pano de fundo. Ele sabia que tinha algo diferente em mãos.

“Agora temos muita história sobre drogas. Sobre narcotráfico, um monte. Mas nenhuma busca tocar a alma e entender os personagens. Queria dar um sentido humano para isso tudo. A partir do olhar do Vitor, tentar entender qual era essa dor, de um pai que combatia a droga no lugar errado e de um filho que não conseguia se distanciar dela”. Para o realizador que se destacou nas bilheterias pela lançamento de “2 Filhos de Francisco”,em 2005, “são duas visões importantes que fazem uma espécie de painel que conta muito sobre onde a nossa sociedade está agora em relação às drogas”.

Doze anos depois, o diretor não tem dúvidas de que esta complexa história só caberia num formato como a série. “Era muito grande e precisava de muitas camadas para ser explicada. Jamais poderia ser um filme. Lá atrás ela chegou a virar filme, mas dou graças a Deus por ter se transformado em série, com esse mosaico absurdo de linhas e épocas e quantidade de personagens”, afirma.

Silveira não esconde que é um apaixonado por histórias reais. Depois da dupla Zezé Di Camargo & Luciano, ele já contou a trajetória de Gonzagão e agora tem na manga uma adaptação da vida do rei Roberto Carlos.

“Eu amo histórias reais, principalmente histórias que nos expliquem, que contem um pouco da nossa história como brasileiro. Eu tenho uma quantidade de histórias reais que não caberia nem nesta mesa, com várias pessoas me procurando. Isso já faz parte da minha vida”, assinala.

O cineasta conta o segredo para a realização destas transposições, reforçando a importância de compreensão dos personagens. “Você só consegue entrar nas camadas do personagem depois que entende muito ele, que você sabe para onde ir e tem uma noção exata de cada ser humano que está ali”, ensina.

Ele diz gostar do timing que “Dom” está chegando às telas,  mas ressalta que o problema do vício nunca saiu de cartaz. “Vocês sabiam que nos países onde a droga foi legalizada, a criminalidade caiu 70%? É duro ver que as políticas de governo não mudaram. Essa série faz uma bela crítica a isso.  Hoje em dia ainda tem gente achando, como há muito tempo, que lugar de viciado é na cadeia”.N/A / N/A

Flavio Tolezani vive o pai que, na vida real, procurou Breno Silveira para contar a verdadeira história

Tudo é feito para você enxergar a história de um outro ponto de vista”, avalia​ diretor

Breno Silveira é o “showrunner” da série “Dom”, um termo muito utilizado no mercado audiovisual americano para definir o “dono” criativo do produto, que acompanhará todas as etapas de realização. “Showrunner, estou aprendendo a ser. Não sabia o que era essa p... O que significa isso?”, admite.

Ela já desempenhava esse papel antes, ao criar as séries e  filmes que dirigiu. “Você tem uma participação muito maior no roteiro e eu me preparei para isso. Entendi que tinha que estar comandando aquela sala de roteiro. Como conheci o Victor (Dantas), eu tinha tudo desde o princípio”, observa.

O único problema de Silveira é o que ele define como “fissura” para dirigir. “Showrunner não precisa dirigir, mas é uma fissura tão grande após você colocar aquela história inteira de pé... Eu amo o set, eu nasci no set. Sou tarado pela interação com os atores. Nem consegui dividir tanto a direção”, diverte-se.

Malu Miranda, head de Conteúdo Original para o Brasil do Amazon Studios, registra que a função significa ter  domínio total no contar da história. “Desde o tom, a maquiagem, a caracterização, o elenco, mas  especialmente o roteiro, que é a parte mais importante. É ser esta liga. É estar num set quase sempre e não dirigir. Mas isso também é uma opção”, brinca.

Para Silveira, “Dom” representou uma pós-graduação neste quesito. “Eu nunca imaginei uma série tão complexa. Parece que tudo convergiu na minha vida para eu dirigir uma série deste tamanho. Dificilmente  pegarei uma história tão complexa como esta, com tantas camadas e personagens. Ela não tem nada óbvio e simples. Tudo é feito para você enxergar a história de um outro ponto de vista”, avalia.

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