Sesc Palladium apresenta o cinema crítico de Jacques Tati

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
06/11/2012 às 07:31.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:54
 (Divulgação)

(Divulgação)

Em “Meu Tio”, monsieur Hulot descobre que, ao abrir a janela da casa de seu cunhado, um passarinho sempre responde com um canto. Ele busca uma explicação, abrindo e fechando a janela diversas vezes, de forma cômica. Por fim, percebe, encantado, que a luz refletida no vidro incide sobre a ave, fazendo-a cantar.

Um tipo de humor delicado e sem diálogos explicativos, que remete o espectador ao cinema mudo e, curiosamente, se mantém muito atual, especialmente na maneira como o criador de Hulot, o francês Jacques Tati (1909-1982), critica o progresso. É esse olhar que interessa ao rever a filmografia do cineasta.

O Sesc Palladium exibe, esta terça-feira, retrospectiva completa de Tati, em DVD, intitulada “Tati por Inteiro”. O nome da mostra é pertinente, pois o que o cineasta mostrou em seus filmes, com o personagem Hulot, foi um retrato sincero de sua figura e de seu pensamento.

“AOS TROPEÇOS”

No livro “Meu Tio”, escrito por Jean-Claude Carriére e lançado no mesmo ano do filme (traduzido pela editora CosacNaify), em 1958, o autor descreve Tati como um homem que “andava aos tropeços, meio curvado para a frente, e saía distribuindo cumprimentos sem motivo”.

Um dos maiores roteiristas de cinema, Carriére destaca que a rotina de Tati já era um filme. “Agora mesmo, de repente, vejo ele fazendo a feira na pracinha, o cachimbo apontado para o alto. Na mão, uma sacola preta de onde sai a carranca dentuça de um peixe. Essa carranca terrível provoca os cachorros debaixo das barracas, e nesse meio tempo se acumulam os incidentes que são a graça de andar com ele”, escreve.

Assim como Charles Chaplin, que lutou o quanto pode para não ser vencido pela tecnologia, produzindo filmes em preto e branco e mudos, Tati se valeu de Hulot para se arvorar contra a modernidade insípida e uniformizadora: o próprio corpo do personagem desafia um conforto que é só aparente.

AUTOMATISMO

O espectador se solidariza com o protagonista em “Meu Tio”, enxergando inconvenientes numa casa automatizada. Nos dias atuais, em que se preza a liberdade de escolha e as conquistas da mulheres, a atitude da irmã de Hulot, postada na porta de casa para entregar chapéu e maleta ao marido, a crítica de Tati se faz mais eloquente. E necessária.

Mostra “Tati por Inteiro” – No Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046). Entrada franca. 

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por