Sinais de vida na economia

11/04/2016 às 20:31.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:54

Não existe dúvida de que a crise econômica é a principal variável da crise política. O processo de impeachment muito provavelmente não existiria se a economia estivesse em franco crescimento, já que as acusações contra a presidente não possuem solidez legal.

Foi o mau desempenho da economia criou terreno fértil para a pregação da ruptura do processo democrático. E como as crises se retroalimentam, as vagas da insegurança política voltam para também deteriorar o ambiente econômico, colocando para girar o círculo vicioso no qual nos metemos.

Mas será que a crise na economia é tão dramática e profunda quanto a crise política? Acredito que não e apresento alguns dados que jogam luz sobre a realidade econômica atual e perspectivas futuras.

É evidente que a crise é séria. Estamos em recessão e com inflação ainda alta. A queda do PIB de 2015, de 3,8%, somada a nova queda esperada para 2016, de mais de 4%, configurará o período de maior encolhimento da economia nacional em décadas. Muito pior que as crises de 1980/1983, de 1990/1992 ou de 1999/2003.

Mas todos sabem que a economia é feita de ciclos. Momentos de desaceleração são precedidos e sucedidos por fases de aceleração. E o objetivo da gestão macroeconômica, no final das contas, é turbinar a aceleração nos bons momentos e segurar a queda nos ruins, de modo que o resultado seja crescimento médio positivo no longo prazo.

Apesar da economia brasileira estar hoje no ponto mais baixo de um ciclo de queda, o fato é que já existe luz no fim do túnel. Não existe, hoje, clima para recuperação da confiança de empresários e consumidores, o que é fundamental. Mas, vejamos alguns outros dados.

O país encerrou 2015 com uma redução expressiva no deficit em transações correntes (todo dinheiro que é internalizado menos o que é remetido), que foi de US$ 104 bilhões e se reduziu para US$ 59 bilhões no ano passado. As projeções do BC são de aproximadamentre US$ 25 bilhões neste ano. Já o saldo comercial deficitário de 2014 se transformou em superávit de US$ 18 bilhões no ano passado, apesar da queda de 11% no volume de trocas no período. Para este ano, a expectativa é de novo superávit, desta vez de US$ 40 bilhões.

Isso se deve aos ganhos de competitividade advindos do ajuste da taxa de câmbio. Em fevereiro, os volumes exportados pelo país avançaram mais de 11% (acumulado de 12 meses, contra igual período imediatamente anterior). E o outro ganho importante foi a substituição de importações, que deu fôlego importante para a indústria. O câmbio também é responsável por tornar o país mais competitivo para o investimento direto, ou seja, aquele que é feito para se produzir no país. No ano passado, o investimento direto foi de US$ 75 bilhões, o suficiente para financiar o déficit em transações correntes. E a expectativa é de crescimento neste ano.

Logicamente, ainda pouco se evoluiu na questão do ajuste fiscal, até porque a dinâmica da recessão fez com que as receitas encolhessem muito mais que o esforço de economia realizado. No entanto, o colchão representado pelas reservas internacionais, importantíssimas para garantir que o país atravesse o pior da crise, poderão ser usadas num segundo momento para injetar ânimo na economia. Isso será feito, apesar de todos dizerem o contrário, porque não há outra fonte de recursos para financiar a retomada do crescimento.

O fato é que teremos ainda um 2016 muito difícil, mas já existem lufadas de ar renovado que permitem algum otimismo para 2017. Se Dilma conseguir se segurar na política, talvez possa surfar numa boa onda econômica.

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