Nasci em 1966, ano em que o Cruzeiro conquistou seu primeiro e inesquecível campeonato nacional – a Taça Brasil –, com direito a duas vitórias maiúsculas sobre o até então imbatível Santos de Pelé e Pepe: a primeira por goleada de 6 a 2, no Mineirão, e a segunda de virada, por 3 a 2, em pleno Pacaembu.
Torcedor fanático da máquina celeste, meu pai não titubeou em dizer à esposa, pouco antes do parto, que eu me chamaria Evaldo, homenagem ao atacante de sobrenome Cruz que brilhou naquela competição, com seis gols, e colecionou belas atuações no Maior de Minas, até 1973.
O nome escolhido, aliás, teve seu pico de registros no país justamente nessa época. O auge foi em 1970, com quase 15 mil Evaldinhos chegando ao mundo, segundo o IBGE. Claro que muitos deles foram resultado de homenagens dos pais a outros homônimos. Como o Braga, cantor que fez enorme sucesso até morrer precocemente, também em 1973.
Mas, no meu caso, papai garantiu a todos, a deferência era única e exclusiva ao veloz e habilidoso jogador que brilhou nos gramados e formou, ao lado de Tostão, Dirceu Lopes, Hilton Oliveira e Piazza, um dos mais notórios ataques do futebol brasileiro, dando origem à expressão “rápido e rasteiro como a linha do Cruzeiro”.
A justificativa para a empolgação do meu pai, certamente, foram os gols marcados pelo atleta logo na estreia da competição de 1966, poucos dias antes de eu vir ao mundo.
Evaldo fez um na goleada de 4 a 0 sobre o Americano, time onde fora revelado, em Campos (RJ) – sua terra natal, e, no jogo de volta, guardou dois no Mineirão, no massacre de 6 a 1 (um placar muito especial e que se eternizaria décadas depois, diga-se de passagem).
Lembro-me que, ainda menino, fui levado ao Independência, ou “Campo do 7”, como era conhecido na época, por um tio. Era um jogo comemorativo que, se não me falha a memória, tinha num dos lados o Esab, de Contagem.
Também em campo estavam atletas e ex-atletas dos principais times mineiros. Evaldo, a quem eu vi pela primeira vez, era um dos atacantes e, assim que tocou na bola, o tal tio contou-me que fora a inspiração para meu batismo. Isso aconteceu pouco depois da morte do velho e me marcou bastante.
Passados uns 15 anos, levei minha Brasília marrom que vivia dando problemas para consertar. Escolhi uma loja, acho que de escapamentos, bem ali no Prado, chamada... Evaldo. E quem era o dono do estabelecimento e estava lá no balcão, todo atencioso? Ele mesmo, o matador, que deixou o Fluminense para fazer história no Cabuloso, no mesmo ano em que nasci!
Contei a história a ele e nos abraçamos.
Hoje, ao assumir esta coluna, que por tantos meses ficou a cargo do brilhante colega Thiago Pereira, trago esses casos singelos para mostrar apenas alguns dos meus muitos e fortes vínculos com o Cruzeiro – time que, ao longo dos últimos 50 anos, chegou a me entristecer, mas poucas vezes perto das inúmeras ocasiões em que me fez feliz.
Parafraseando meu xará cantor, mencionado acima: diante de uma equipe que conquistou nada menos que quatro títulos nacionais nos últimos cinco anos, com dois bicampeonatos de verdade, o que posso fazer, a não ser sorrir?