(Reprodução Facebook)
Captação de R$ 100 mil por meio de financiamento coletivo em uma semana. Eleição de vereadores em quatro capitais sem nenhum segundo de propaganda na TV. Vídeos com mais de 400 mil visualizações em dois dias de postagem.
Os casos acima, de Marcelo Freixo (Psol), no Rio de Janeiro; do Partido Novo, em Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e São Paulo; e de Alexandre Kalil (PHS), também em BH, são alguns exemplos de como a internet impactou de forma significativa as eleições 2016, marcadas pela restrição de financiamento e tempo curto de campanha.
O que esses casos têm em comum é o fato de os candidatos de todos esses partidos já terem uma base de seguidores em redes sociais e um histórico de ativismo na internet, ainda que ele possa ter se amplificado durante a campanha. É o que explica o coordenador do Laboratório de Estudos de Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Fábio Malini.Reprodução Facebook / N/A
FREIXO – Candidato à prefeitura do Rio já tinha base considerável nas redes sociais
O analista de internet e política lembra que Kalil já era conhecido pelas postagens polêmicas no Twitter, e que Marcelo Freixo, que é deputado no Rio, e outros parlamentares do Psol, como Jean Wyllys (RJ) e Ivan Valente (SP), vêm de uma trajetória de militância permanente no Facebook, amealhando uma base considerável de seguidores.
Além disso, o Partido Novo se constituiu a partir de uma base mobilização online, ligada ao Fora Dilma, que tinha outros objetivos, mas que migrou, em parte, para um suporte aos candidatos a vereador.
Dessa forma, ao contrário de criar uma estrutura do zero, o que as figuras que se destacaram na internet nessas campanhas tinham em comum é o fato de darem continuidade a ou ampliarem um ativismo na web.
Amaciando
Integrante da equipe de mídias sociais da campanha de Freixo, Giovanny Ferreira vai na mesma direção. “Buscamos trabalhar com uma linguagem acessível, que quebre a dureza com que as pessoas veem a política. E, também, explorar a influência dos políticos do Psol nas redes. Nossas páginas de Facebook e Twitter têm muita capilaridade”, explica.
Em outra ponta, Mateus Simões, um dos vereadores eleitos pelo partido Novo, concorda. “Pessoas que já estavam mobilizadas digitalmente foram em direção ao Novo. E elas viram que outros partidos não se atinaram para isso”. Antes de se candidatar, Simões já tinha mais de seis anos de atuação política na web.
Bom desempenho passa pela capacidade de transmitir emoções
Mateus Simões, vereador eleitor pelo Novo em BH, pontua que desde o início da formação da legenda, a gestão das ferramentas digitais era um foco do partido.
E no caso dos vereadores eleitos, explica, foram os próprios candidatos que passaram pela formação e cuidaram diretamente da manutenção das suas mídias sociais, buscando vender uma ideia de autenticidade, num momento de descrença da população com a política.
“O internauta vê diferença quando o texto é escrito por uma agência de publicidade e quando é feito por uma ‘pessoa comum’. Um texto cru, um vídeo cru têm outra recepção”, diz.
Para Fábio Malini, da UFES, mais que autenticidade, o que todas as campanhas na internet buscam é transmitir sentimentos. “Temos, cada vez mais, uma política marcada por estratégias de viralização da emoção, que pode estar ligada a uma opinião radical. Os candidatos que nos surpreenderam trouxeram pautas novas, sejam elas de direita ou de esquerda, envoltas em estratégias virais de emoções, usando WhatsApp, gifs e transmissões ao vivo no Facebook”, diz.
Para as próximas eleições, os envolvidos nas campanhas veem como desafio universalizar o uso das ferramentas de internet para outros candidatos dos seus partidos, além de entender melhor como usar ferramentas que se popularizaram nos últimos anos, como a transmissão ao vivo.
E há sempre a contrapropaganda da oposição, que circula na mesma velocidade na rede e precisa ser enfrentada. “Agora no segundo turno houve a criação de factóides, é preciso desmistificar”, exemplifica Giovany Ferreira, da campanha de Freixo.