Muitas pessoas, ao sair de uma empresa com situações salariais e/ou indenizatórias pendentes, não pensam duas vezes antes de contratar um advogado e ir à Justiça do Trabalho. É mais do que legítimo, em qualquer setor de atuação, tentar, pela via de acordos amigáveis ou mesmo de litígios – levando os casos à barra dos tribunais –, fazer valer direitos que imaginamos ter.
Também entra na lista de infrações passíveis de reparo financeiro uma série de outras irregularidades, cometidas pelos contratantes, como o assédio no ambiente de trabalho (moral e sexual) e os desvios de função a que o trabalhador possa ter sido submetido.
Incrível, contudo, é a quantidade e o alto valor das ações trabalhistas enfrentadas pelo combalido Cruzeiro, conforme reportagem publicada recentemente neste jornal. De 2009 a 2017 (ou por oito anos), o clube somava apenas 31 processos do tipo, movidos por ex-jogadores e ex-funcionários. Nos últimos dois anos, o total das pendengas disparou para 98, sendo que parte considerável é de agora, em 2020.
Vale lembrar que há muito dinheiro envolvido, algo que deve causar estragos ainda maiores que os já existentes. Só a ação movida por Fred seria de R$ 31 milhões (uma quantia que poderia ou não incluir a dívida com o clube de Vespasiano).
O processo movido por Thiago Neves, por sua vez, chega a R$ 16 milhões. Há ainda outros de menor monta, mas igualmente elevados, como o do jovem meia Ederson (R$ 2 mi). Sem contar as dezenas de cobranças, tenho certeza que justificáveis, em sua maioria, de outros ex-cruzeirenses e pessoas voluntariamente ou não envolvidas nos negócios questionáveis da nossa última gestão.
São números que nos fazem ver na Copa do Brasil, que o Cabuloso começa a disputar hoje, contra o São Raimundo (RR) – em busca de um sonhado heptacampeonato –, uma espécie de tábua de salvação. Ou uma tabuinha (ou “taubinha”, como dizem no interior), diante das enormes necessidades pelas quais passamos. Mas é algo em que podemos nos agarrar para respirar um pouco.
O torneio pagará ao campeão nada menos do que R$ 72,8 milhões, na somatória das premiações ao longo da competição. Segundo reportagem de hoje, só no caso de chegarmos às oitavas de final – etapa em que entramos na CB do ano passado –, seriam garantidos R$ 8,5 milhões aos nossos cofres, ou quase três folhas salariais.
Na hipótese de sermos campeões, tem sempre aquela história: dinheiro faz dinheiro e um sucesso leva a outros – quem sabe um tri da Libertadores, no ano que vem? Mas tudo isso só será possível se tivermos nos livrado, de vez, dos malditos atravancadores do caminho.