"Tatuagem" é o grande vencedor do Festival de Gramado

Luiz Carlos Merten - Agência Estado
19/08/2013 às 10:27.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:06

Ao contrário da competição brasileira, a latina do 41º Festival de Gramado deve ter sido bem fácil para o júri. O colombiano "Cazando Luciernagas", exibido na sexta-feira (16), era realmente o melhor título da seleção e nem deve ter havido muita discussão para atribuir o Kikito ao filme do diretor Roberto Flores Prieto. Já a mostra brasileira deve ter animado discussões acaloradas e o júri premiou "Tatuagem", de Hilton Lacerda, como melhor filme.

Irandhir Santos foi melhor ator, mas Hilton viu o Kikito de direção ser atribuído a dupla Andradina Azevedo e Dida Andrade, por "A Bruta Flor do Querer". São filmes gêmeos e, de certa forma, foram os escândalos, no plural, de Gramado em 2013. Dois filmes que discutem a criação, um mais metalinguístico ("A Bruta Flor") e ambos marcados por cenas de sexo muito forte. A diferença é que o sexo de um é homo e o do outro é hétero, embora no debate, falando da perfeita união entre ambos, Andradina Azevedo e Dida Andrade tenham dito que o casamento deles é puramente platônico.

O júri apostou no ousado, e isso é bom, mas suas escolhas vão dar o que falar. Por melhor ator que seja Irandhir Santos, não foi o melhor do festival. E atribuir um Kikito póstumo, de coadjuvante, para Walmor Chagas - por "A Coleção Invisível" -, foi uma facilidade e uma covardia, além de injustiça com os estreantes do filme pernambucano. Jesuíta Barbosa e Rodrigo Garcia são melhores que Irandhir Santos (neste filme, ao menos) e o júri teria ousado mais destacando o trabalho dos garotos, em vez do prêmio para o grande Walmor. Ele não apenas não precisa mais do prêmio - não precisaria nem em vida - como é bom no padrão de qualidade que sempre foi o seu, sem a visceralidade dos papéis de Jesuíta e Rodrigo.

Sem cinismo algum, pode-se dizer que as discussões em Gramado foram melhores que os filmes. O próprio "Tatuagem", por discutível que seja, possui sua importância e a história de uma companhia transgressora (dos costumes e da política), no Recife, durante os duros anos da repressão do regime militar, levanta questões muito interessantes. O líder da companhia que se apresenta no espaço "Chão de Estrelas" é um gay que teve um filho. Ele se envolve com um soldadinho sob os olhos do filho, que acompanha a ligação e tem a frase final sobre ela, no último diálogo. O menino talvez seja o melhor personagem do filme e, embora Tatuagem não seja autobiográfico, tem muito do diretor.

"Tatuagem" sugere uma mistura de "A Febre do Rato", de Claudio Assis, que Hilton Lacerda escreveu, com Dzi Croquettes, o documentário sobre o grupo que afrontou a ditadura com seu comportamento libertário. "Dzi" foi feito - em parceria - por Raphael Alvarez e Tatiana Issa, filha de um dos Dzi. É mais ou menos como se o menino de "Tatuagem" fizesse anos mais tarde, já adulto, um documentário sobre seu pai. A transgressão jovem de "Tatuagem" e "A Bruta Flor" foi uma aposta do júri, com prejuízo para obras como "Os Amigos", de Lina Chamie, e "O Primeiro Dia de Um ano Qualquer", de Domingos Oliveira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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