A nomeação do pastor Marcos Pereira para o Ministério da Indústria é a mais risível e a menos plausível de todo o primeiro escalão de Temer. Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp, deve ter sido recebida como um soco no estômago.
Todos se lembram do pato inflável e da faixa “Renúncia Já” na sede da entidade, na avenida Paulista, durante os protestos. A Fiesp, que se auto-intitulou “a casa do impeachment”, foi de longe a mais atuante entre suas congêneres no esforço de derrubada da presidente.
Tudo levava a crer que o nome do novo ministro da Indústria sairia de uma consulta às bases empresariais, ou seja, à Fiesp e à CNI, esta presidida pelo mineiro Robson Andrade que somente aos 45 minutos do segundo tempo levantou a bandeira pró-impeachment.
Mas não foi nada disso. O ministério da Indústria foi dado ao PRB, partido que é o braço político do bispo Edir Macedo e de sua Igreja Universal do Reino de Deus.
Além de não ter qualquer interlocução com a indústria, Marcos Pereira também não apresenta currículo que justifique a nomeação. Mais que isso, não entende do assunto. Em sua primeira entrevista, publicada ontem pelo jornal Valor Econômico, soltou algumas pérolas. Transcrevo algumas delas:
–“A indústria é um setor que eu tive pouca afinidade, não obstante eu tenha sido contador de indústria no início da minha carreira”.
–“O que penso é segredo de Estado (sobre as diretrizes da pasta)”
–“Estou aguardando para que a gente possa verificar o que vai fazer”.
“Ninguém melhor do que o setor sabe onde ele está e onde ele quer chegar. Ouvindo nós vamos construir um caminho para a indústria sair da situação periclitante em que está”.
–“Asseguro que não vou falhar porque tenho sido uma pessoa de consenso, que trabalha para pacificar conflitos”.
Sinceramente, dá para confiar? Olavo Machado, presidente da Fiemg, e Robson Andrade, da CNI, defensores de última hora do impeachment, devem estar diminuídos e envergonhados com a situação. Mas Skaf, que tramou, financiou e deu publicidade à campanha contra a presidente, deve estar se sentindo enganado. Mais uma vez, foi feito de pato.
Aberração
Vale reforçar outras duas outras aberrações do ministério de Temer. Nas importantíssimas pastas da Saúde e dos T[/TXT_COL]ransportes colocou gente suspeitíssima. Na primeira, o ministro é Ricardo Barros, ex-tesoureiro do Partido Progressista (PP) nos tempos do petrolão. Precisa dizer mais alguma coisa? Engenheiro, Barros ontem soltou essa, sobre o controle da qualidade dos planos de saúde: “Ninguém é obrigado a contratar plano. Então, não cabe ao ministério controlar isso”.
E nos Transportes, o ministro é Maurício Quintella, do Partido da República (PR), justamente a legenda acusada de comandar o esquema de propinas nessa mesma pasta no primeiro governo Dilma. O ministério foi dado ao PR de “porteira fechada”, ou seja, com autonomia para o partido indicar os nomeados para todos os cargos, em todos os escalões. E do que cuidará o Ministério dos Transportes? Das privatizações e concessões de rodovias e aeroportos (a secretaria de Aviação Civil agora integra a pasta). Ou seja, de dinheiro, muito dinheiro.