Os ventos e o céu limpo de agosto são a combinação perfeita para empinar pipas, mas a brincadeira exige cuidados. A circulação de crianças nas ruas onde passam carros, a brincadeira perto da rede elétrica e o uso de linhas cortantes são alguns dos perigos, tanto para quem brinca, quanto para o resto da população.
A Cemig chama a atenção para a necessidade do cuidado com a rede elétrica. Segundo a companhia, somente nos cinco primeiros meses deste ano, a Região Metropolitana de Belo Horizonte registrou 201 desligamentos provocados pelo contato das pipas com a rede, o que deixou mais de 57 mil famílias sem energia. Em todo o Estado, foram mais de 100 mil clientes com fornecimento interrompido em 438 ocorrências.
Em 2018, 750 mil residências em Minas Gerais ficaram sem energia elétrica em 2018 após incidentes envolvendo pipas. Foram anotadas 2202 ocorrências.
Outro perigo na hora de empinar os brinquedos é o de eletrocussão. Nesse domingo (28), por exemplo, um adolescente de 13 anos morreu eletrocutado após tentar resgatar uma pipa na rede elétrica em Montes Claros, no Norte de Minas. Segundo a Polícia Militar, testemunhas contaram que o jovem estava tentando tirar o brinquedo dos fios com uma haste de madeira quando aconteceu o acidente que o matou. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas constatou o óbito no local.
A Cemig classifica a tentativa de recuperar pipas presas como principal causa dos acidentes. O problema começa quando as pessoas tentam retirar os papagaios com objetos condutores, como pedaços de madeira e barras metálicas ou de ferro. O choque pode provocar quedas, traumatismos, queimaduras e até a morte, como aconteceu com o adolescente em Montes Claros.
O uso de cerol e de linha chilena também é um dos principais causadores de desligamentos, já que, segundo a Cemig, tanto a mistura quanto a linha contêm materiais condutores e, por serem cortantes, podem romper os cabos da rede elétrica.
De acordo com o engenheiro de segurança do trabalho da Cemig Demetrio Aguiar, alguns procedimentos devem ser adotados para que não haja risco à segurança nem ocorram interrupções no fornecimento de energia durante a brincadeira. “As pipas devem ser empinadas em locais abertos e afastados da rede elétrica. Jamais se deve usar fios metálicos ou cerol e, caso a pipa fique presa, não se pode tentar resgatá-la”, orienta.
Perigos à vida
Além do risco de eletrocussão, o uso do cerol e das linhas chilenas pode trazer consequências gravíssimas, tanto a vida de quem empina as pipas, quanto de terceiros. A linha chilena, por exemplo, produzida em escala industrial e altamente cortante, foi responsável pelo acidente que fez o adolescente Gabriel Nascimento, de 15 anos, perder a perna esquerda na última semana. O sonho do garoto de ser jogador de futebol foi afetado pelo uso do artefato.
Já o motociclista Henrique Luiz de Souza, de 38 anos, teve a traqueia rompida por uma linha com cerol enquanto trafegava pela MG-10, além de fraturas e ferimentos pelo corpo. Ele passou por quatro cirurgias e ainda não há como saber se ficará com sequelas.
Somente em 2019, o Hospital João XXIII, em BH, já atendeu 23 ocorrências de pessoas feridas com a linha, inclusive provocando mortes.
A lei estadual 14.349/2002 proíbe o uso de cerol ou de qualquer outro tipo de material cortante nas linhas de pipas, de papagaios, de pandorgas e de semelhantes artefatos lúdicos, para recreação ou com finalidade publicitária, em todo o território do Estado de Minas Gerais. Quem for flagrado usando cerol ou linha cortante está sujeito ao pagamento de multa, que varia de R$ 100 a R$ 1,5 mil, podendo ser agravada.
Além disso, quando menores são flagrados usando cerol e o material provoca acidente, os pais podem ser penalizados por danos a pessoa física, ao patrimônio público ou à propriedade privada.