(Lucas Prates/Hoje em Dia)
A falta de testagem para diagnosticar Covid-19 é um dos entraves para conter o avanço da doença nas regiões periféricas de Belo Horizonte. Profissionais de saúde que atendem a população mais vulnerável afirmam que apenas a suspeita de infecção não é suficiente para manter as pessoas em isolamento social. Muitas continuam saindo para trabalhar e convivendo normalmente com familiares, sem a quarentena adequada, contribuindo para a propagação do coronavírus.
Um dos exemplos da explosão de registros é na Ventosa, aglomerado da região Oeste da capital. Lá, em um período de 20 dias, de 29 de maio a 19 de junho, o crescimento foi de 800%, conforme cruzamento de dados publicados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA).
Levantamento do Observatório de Saúde Urbana (OSUBH), da Faculdade de Medicina da UFMG, também aponta o avanço da doença nas áreas mais pobres da capital. De acordo com os pesquisadores, “a distribuição de casos das regiões Leste, Noroeste, Centro-Sul e Oeste, bem como os em Venda Nova, se concentra em vizinhanças de importantes vilas e favelas do município”.
Apesar de não cravar que a propagação da pandemia está maior nos aglomerados, a SMSA reconhece que os registros nessas áreas têm impactado nos números da doença. “A curva começou a subir em 17 de maio, antes da flexibilização. Muito desse crescimento às custas do aumento de casos em aglomerados, vilas e favelas”, ressaltou o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, em entrevista ao Hoje em Dia.
Hoje, no Estado, apenas pacientes graves são submetidos ao exame de Covid-19. Mas sem testagem em massa da população, especialistas temem a falta de controle sobre a pandemia principalmente nas periferias, que já enfrentam vários problemas de infraestrutura.
“Quando se tem um caso positivo confirmado, é possível isolar essas pessoas e diminuir a chance de transmissão. Se a população vive em aglomerações, muitas vezes até sem água para lavar as mãos, a situação pode ficar incontrolável”, ressalta Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Nesses locais, ainda pesa mais uma dificuldade: imóveis pequenos e “colados” uns nos outros. “A gente não sabe se é melhor o morador (com sintomas) ficar em casa, junto a outras pessoas, ou de máscara e fora da residência, porque é mais ventilado. É um desafio diário lidar com isso”, diz uma médica que atua em centro de saúde no Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul, e pediu anonimato.
A especialista afirma que pacientes sintomáticos aumentaram consideravelmente nas duas últimas semanas, inclusive com quadros graves. “A gente ouve de muito deles que essa doença não pega em pobre, mas não é assim. O vírus não escolhe sexo, idade, status”.
Em busca do teste
Morador do Aglomerado da Serra, Pedro Henrique Pereira do Carmo, de 24 anos, saiu desolado de um centro de saúde na última sexta-feira, após um colega de trabalho apresentar sintomas de Covid-19. “Ele não fez o exame, só o mandaram para casa e disseram que era para procurar um hospital caso piorasse. Eu estou com medo e queria fazer o exame, porque tive contato com ele. Moro em uma casa com meus pais, a minha mãe tem pressão alta”, contou o balconista.
Para saber se foi contaminado, Pedro terá que pagar pelo teste. Em laboratório particular, o PCR (que diagnostica o vírus) sai a partir de R$ 280. O teste rápido, que identifica anticorpos no organismo, tem valor mínimo de R$ 120.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que, ao ser atendido no centro de saúde com sintomas leves, o paciente recebe a indicação de isolamento domiciliar e é monitorado por telefone a cada 48 horas. Em caso de agravamento do estado de saúde, a equipe do posto o orienta a buscar ajuda médica. Há também uma plataforma de consulta on-line para atender e monitorar pacientes com suspeita de Covid-19 cadastrados nos centros de saúde.